Foto: Arquivo pessoal/Danieli Smychniuk
Foto: Arquivo pessoal/Danieli Smychniuk| Foto:

“O que que tem esse neném que não para de chorar?”, perguntava a pequena Aline Stainsack, inconformada com a chegada do novo membro da família. Com apenas dois anos e três meses, a garota não queria dividir seus pais com o irmãozinho e achava que viveria muito bem sem outra criança em casa. No entanto, a convivência mostrou que ela estava errada porque aquele bebê chorão foi fundamental para que ela desenvolvesse autonomia, autoestima, aprendesse a se relacionar com outras pessoas e enfrentasse os problemas durante seu crescimento.

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“O Jhonny sempre me fez acreditar que eu podia ser alguém melhor, me alegrava quando eu estava triste e me incentivava a desenvolver minhas habilidades”, afirma a paranaense, hoje com 30 anos. “Percebi que ter um irmão foi um presente de Deus para mim”.

De acordo com a psicóloga Ana Thereza Nogueira, a convivência saudável entre irmãos é significativa durante o crescimento da criança porque, além de garantir uma companhia para brincar e contar segredos, permite a formação de aspectos da personalidade que favorecem o amadurecimento do indivíduo. “Eles aprendem a conviver desde cedo com as diferenças, a compartilhar o que têm e a lidar com sentimentos opostos”, afirma.

“Percebi que ter um irmão foi um presente de Deus para mim”, afirma Aline.

No caso de Aline, esses sentimentos se misturaram durante toda infância porque, ao mesmo tempo em que sentia ciúme da atenção que o irmão recebia dos pais, também cuidava do garoto e tentava ajudá-lo. Além disso, aquela raiva que surgia durante as brigas – ou quando o caçula a entregava depois de alguma travessura – sumia rapidamente e dava lugar à preocupação com o bem-estar do menino. “Nós sempre defendemos um ao outro. Lembro de uma vez, por exemplo, em que uma colega de classe riu dele por alguma razão e eu fiquei tão revoltada que discuti com ela”, relata.

Aline e Jhonny sempre se preocuparam um com o outro na infância e o companheirismo permanece até hoje. Foto: Arquivo pessoal/Aline Stainsack Aline e Jhonny sempre se preocuparam um com o outro na infância e o companheirismo permanece. Foto: Arquivo pessoal/Aline Stainsack

Essa capacidade de deixar de lado as diferenças a fim de defender o outro pelas suas qualidades é essencial para as relações interpessoais durante a vida adulta e, segundo a psicóloga, também favorece o autoconhecimento. “Você aprende a conviver intimamente com alguém ao mesmo tempo em que respeita seu espaço e individualidade”, aponta.

Ensino de valores

Além disso, a intervenção correta dos pais durante as desavenças das crianças pode ensinar valores importantes como o perdão e estimular que os filhos repliquem atitudes positivas. “Isso acontece principalmente com o mais velho porque ele acaba se tornando um modelo para seu irmão”, afirma a psicóloga, que pede atenção da família em relação a isso, já que ser um exemplo não significa educar o mais novo.

Com um relacionamento saudável entre as crianças também será possível estimular o desenvolvimento da autonomia de cada uma delas, como ocorre na casa da vendedora Danieli Smychniuk. Mãe de quatro meninas, ela está acostumada a ver as garotas escolherem as roupas que vão vestir, ajudarem as irmãs nas tarefas da escola e colaborarem com atividades em casa. “Elas se tornam mais independentes porque uma incentiva a outra para isso”, afirma a moradora de Araucária, no Paraná.

Para a família de Danieli, as atitudes solidárias das filhas fazem parte da rotina. Foto: Arquivo pessoal/Danieli Smychniuk Para a família de Danieli, as atitudes solidárias das filhas fazem parte da rotina. Foto: Arquivo pessoal/Danieli Smychniuk

Segundo ela, também é comum ver atitudes altruístas das filhas, que sempre pensam no bem-estar das outras. “Esses dias elas estavam brincando de ‘dança das cadeiras’ e a caçula chorou quando não conseguiu sentar. Aí uma das irmãs deu seu lugar com a maior alegria”, relata a mãe, que está habituada a ver as meninas repartindo o que ganham. “E, quando recebem coisas que não dá para dividir, elas pedem que a pessoa dê uma quantidade maior. Todas fazem isso quando vão ao pediatra e ganham pirulito, por exemplo”.

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Atitudes de solidariedade como essas, de acordo com a psicóloga Ana Thereza, são bem comuns no convívio com um ou mais irmãos porque “eles estão acostumados a compartilhar objetos, dividir o quarto e a atenção dos adultos”. Dessa forma, ainda que exista alguma parcela de ciúme no relacionamento, os valores se tornam naturais e fazem parte do dia a dia. “Muitas pessoas até ficam impressionadas com as atitudes das minhas filhas, mas, para nós, isso é normal. Elas aprendem todos os dias uma com a outra e vemos muitos benefícios no relacionamento que elas têm. Elas se amam demais”, garante Danieli.

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