Ainda que previsível, confiar ao meu adolescente a prática da vida adulta foi grande desafio para mim.
Ainda que previsível, confiar ao meu adolescente a prática da vida adulta foi grande desafio para mim.| Foto: Bigstock

Pais normalmente se afligem quando chega a hora de lidar com as saídas à noite de filho adolescente. Ainda que previsível, confiar ao meu adolescente a prática da vida adulta foi grande desafio para mim.

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Insegura da dose de independência a lhe conceder, me ancorei em regras acreditando serem a única fonte de educação necessária para a dinâmica recém iniciada... para todos.

Por uma dinâmica diferente entre pais e filhos

Medo dos primeiros passos de filho adolescente potencializaram nossos já conhecidos embates e acabaram por minar ainda mais nossa relação. Mãe e filho adolescente estávamos à beira do descompasso. Entre a excessiva proteção e a pouca confiança em sua capacidade de lidar com a novidade, a situação ficou insustentável.

Quis mudar e, daquela vez, a inspiração veio de um pai. Seu exemplo prático – e diferente do habitual – mostrou que as saídas à noite de filho adolescente podem ser vividas de outra forma: como oportunidade de conexão entre pais e filhos adolescentes.

A insegurança de pais de adolescente

A iniciação de filho adolescente à vida adulta me cobrou mudanças profundas. Sobreviver às recorrentes intempéries provocadas pelo filho em franco desejo – e exercício – de conquistar independência foi só um das muitas situações que me levaram a isso.

Consciente da importância de formar adulto autônomo, me ocupei de descobrir forma menos tóxica de promover uma transição segura para ele e confortável para mim. Sabia do meu dever de educá-lo com regras e alertas de segurança mas desejava cumpri-lo de modo a contribuir com a formação de um jovem mais do que obediente: um indivíduo consciente. Portanto, vetar as saídas à noite de filho adolescente não foi opção.

Irmã caçula de seis e tia de muitos antes de me tornar mãe, reconhecia o valor daquela experiência. Nem por isso, fui poupada de sofrer na minha vez de lhe confiar as rédeas para a prática das saídas à noite.

O exercício de pais de adolescente muda

Por uma lente maternal essencialmente protetora, senti a mesma tribulação relatada por muitos pais de adolescente em fase de lidar com saídas à noite de filho adolescente. A violência exponencialmente crescente aumentava minha natural insegurança em ceder o comando a filho.

Assim vivi o início da saídas à noite de filho adolescente: lutando contra dúvidas angustiantes. A situação era previsível, os receios plausíveis e os sinais de mudança evidentes. A fase de controle passara; chegada a hora de promover em filho autonomia consciente e segura... dos bastidores.

Saídas à noite de uma lente diferente

Diariamente filho reivindicava as rédeas de sua vida. As saídas à noite logo se tornaram sinal mais evidente de seu desejo de abrir as asas e ganhar o mundo. De repente, puxar e dar linha à pipa ficou mais difícil, sério e preocupante e manter seu controle, mais complicado.

Foi quando perdida entre medos e cobranças, presenciei situação que me despertou para novas possibilidades de viver a experiência de forma diferente da habitual. Naquela madrugada, o adolescente chegou da balada e, para minha surpresa, escutei os passos do pai no corredor para recebê-lo.

Ao primeiro ruído na fechadura, mais aliviado do que irritado com a hora, o pai acolhia o filho que voltava de mais uma saída à noite. Então desperta e atraída pela conversa baixa vinda da sala, me juntei aos dois como ouvinte e observadora. O pai claramente habituado àquela prática me surpreendeu e intrigou por sua inusitada atitude. A princípio, confesso, o julguei um tanto “protetor demais para um jovem já grandinho”, pensei. Depois, porém, enxerguei além: era momento precioso de intimidade e cumplicidade entre pai e filho que crescem juntos como parceiros de vida.

Saídas à noite de filho adolescente vividas de forma diferente

Tendia a crer e a me ocupar de firmar e cobrar regras como meio único de formar adulto responsável. Mas, ao assumir a premissa de que saídas à noite de filho adolescente são fundamentais e não mais controláveis como antes, ajustei meu papel de mãe para encarar e vencer o desafio dando linha à pipa com segurança; não mais para controlá-la mas para sustentá-la em seu voo.

As saídas à noite de filho adolescente definitivamente mudaram minhas madrugadas. A preocupação com sua segurança persiste mas já não tento controlar o incontrolável. O hábito de receber filho à volta das saídas à noite foi determinante para a situação mudar: passamos a dividir histórias, a trocar percepções, a confiar um ao outro experiências vividas; passamos a nos conhecer mais e melhor. A angústia, então substituída por cumplicidade entre mãe e filho, tornou a experiência incrivelmente enriquecedora... para os dois.

Por uma relação diferente entre pais e filhos

Decerto que os combinados de segurança firmados de comum acordo viabilizam uma experiência diferente para mãe e filho adolescente. Ainda que falíveis, as regras pactuadas são mais respeitadas do que quebradas e o resultado, enfim, é favorável. "Mãe, tô iiiindo!". "Ok!", respondo indo até ele. "O celular tá carregado? Já sabe, né: envie mensagem quando chegar lá e quando estiver voltando também, ok? Ah! Lembre-se: nada de beber em copo dos outros! E...", "Tá, mãããe! Não vai repetir tudo de novo, né?! Já falamos sobre isso, né? Confie em mim! Que saco!", e, apressado, me beijou tendo ao fundo um coro em uníssono que também se despedia entre risinhos: "Tchaaau, tiaaaa!". "Vão com Deus! Juííízo! Cuidado!", e a porta finalmente bateu. Virada a chave, então pensei intrigada: "Quem é aquele de brinco mesmo, hein?! Ah, depois ele me conta. Teremos tempo pra isso de madrugada..."

*Xila Damian é escritora, palestrante e criadora do blog Minha mãe é um saco!, espaço em que conta as situações cotidianas e comuns que vive sendo mãe de adolescentes, buscando desmistificar clichês sobre essa fase dos filhos, para transformá-la em um tempo de aprendizado.

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