A família deve vivenciar cada processo da chegada do primeiro filho com o coração aberto para as surpresas que virão.
A família deve vivenciar cada processo com o coração aberto para as surpresas que virão, sem se apegar às expectativas idealizadas.| Foto: Bigstock

Cursos de amamentação e de pais, chá revelação e de fralda. Muitas coisas podem ser feitas pelos pais de primeira viagem, mas, embora busquem certo preparo, será na prática que as experiências serão conquistadas e os desafios vencidos.

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Por isso, é importante que a família esteja preparada com toda informação que tiver acesso, conversando com as pessoas que já passaram por esse processo, sabendo o que é normal nos cenários que irá encontrar.

A compra do enxoval, os móveis do quarto e os utensílios eletrônicos são preparações fáceis de serem lembradas para a chegada do primeiro filho. Porém, há cuidados que, por não serem concretos, podem ser esquecidos pelos pais e o Sempre Família trouxe para ajudá-los:

Pré-natal obstétrico

A médica e mãe de três, Midiã Vergara Bandeira, que é ginecologista e obstetra, indica às mães que, ao descobrirem a gestação, em primeiro lugar procurem um obstetra para acompanhar a gravidez e realizar o pré-natal obstétrico.

Para escolher este especialista, é importante que a gestante saiba qual o tipo de atendimento deseja e como espera o nascimento do filho (parto domiciliar, parto hospitalar, cesárea). Com isso, a família pode buscar informações em relação ao obstetra e sua equipe através da internet, como também com outras mulheres que já foram acompanhadas por aquele profissional.

“Buscar informação em relação aos profissionais que acompanharão a gestação faz com que as surpresas sejam evitadas porque a família saberá qual a linha de atendimento utilizada pelo profissional”, orienta.

Ainda que escolhido o obstetra, é importante que a gestante lembre-se que tem liberdade para trocar, caso não se sinta confortável, mesmo no fim da gestação, pois o mais importante é que ela se sinta segura por quem está acompanhada.

Para auxiliar na preparação do nascimento do primeiro filho, a doula e psicóloga obstétrica, Malu Leal, mãe de dois, indica que, durante o pré-natal é importante que o pai também participe das consultas e exames, tanto para monitorar a saúde do bebê, como também para se vincular com a criança e construir sua identificação como pai.

“O nascimento de uma criança não é o momento só da mãe, o pai deve estar presente, acompanhar as consultas de pré-natal, conhecer os profissionais que vão estar presentes naquele momento, assim como se informar sobre o parto, amamentação e puerpério”, concorda Midiã.

Equipe multidisciplinar

Além do obstetra, é fundamental que os pais busquem pensar na equipe de parto, ou seja, naqueles profissionais que irão acompanhar, determinar e guiar o nascimento do bebê, como o pediatra, fisioterapeuta pélvica e doula, exemplifica Midiã.

“A equipe que vai acompanhar a mulher durante a gestação e no trabalho do parto vai fazer o monitoramento da saúde da família e com isso poderá intervir quando necessário para garantir a saúde e bem-estar de todos”, complementa a psicóloga obstétrica.

Além do pré-natal obstétrico, é importante o pré-natal psicológico, tanto preventivo, como também para o tratamento de possíveis adoecimentos mentais pré-existentes, destaca Malu. “É importante essa preparação da mulher, já que está passando por transformações físicas e emocionais, inclusive a preparação do pai, que também irá reconstruir o seu papel na família”, complementa ela.

A profissional ainda destaca a importância da avaliação odontológica, já que há alterações na mucosa da boca da gestante que podem impactar até mesmo no tempo da gravidez, evitando um parto prematuro.

“O ideal é que a família tenha acompanhamento multidisciplinar, para que os profissionais possam compor um olhar integral da gestante e sua família, para ajudá-los a lidar com as dificuldades pré-existentes da gestação, como também realizar um trabalho preventivo para evitar que venham adoecer, seja física ou psicologicamente”, orienta Malu.

Rede de apoio

A rede de apoio são as pessoas que irão ajudar a família no primeiro momento de adaptação, sendo um suporte para auxiliar os pais, seja com uma comida, seja com a limpeza da casa, até mesmo com um olhar no bebê, enquanto os pais descansam.

“A rede de apoio dá o suporte mais prático, são as pessoas que apoiam o casal, especialmente nas suas decisões. Esse apoio é importante para que a família se sinta preparada e acolhida para paternar e maternar, evitando condenações e julgamentos”, explica a doula.

Embora nem todos os casais tenham uma rede de apoio, Midiã alerta que, em sua ausência, a família pode, em alguns casos, causar mais dificuldades no dia a dia. Portanto, é importante que o casal busque criar uma rede de apoio profissional.

Malu orienta que, primeiramente, o casal entenda a dimensão de suas necessidades, como atividade doméstica, limpeza de roupas ou alimentação. Com isso, poderão buscar fornecedores para auxiliar em tais tarefas, como marmitas congeladas, diarista, serviço de lavanderia e até mesmo entrega de verduras e frutas, a fim de garantir as necessidades básicas da família.

“A rede de apoio é fundamental, não é um luxo. Tem muita gente que acredita que é normal o puerpério ser sofrido, mas não precisa ser assim. A exaustão pode vir em decorrência da falta de apoio, da divisão desequilibrada de tarefas”, destaca a doula.

Adaptação da casa

A adaptação da casa ajuda no processo de preparação interna dos pais de primeira viagem, muitos até preferindo preparar algo manual para o bebê, o que ajuda a se vincular e tornar mais real a chegada da criança.

E não há uma regra geral em como a casa deva ser adaptada. Ela precisa fornecer um ambiente seguro pra receber o bebê, mas não há um item de enxoval imprescindível que deva ser exigido para o nascimento das crianças.

“Tem que ter um lugar para o bebê dormir aconchegado, mas muitas vezes as pessoas investem muito dinheiro em um quarto e acabam não investindo em coisas que são mais importantes naquele momento, como a equipe de parto”, exemplifica Midiã. “Cada família tem sua realidade financeira e de espaço físico. Imprescindível para um bebê é o amor e o carinho e não um item de enxoval”, complementa a médica.

Além disso, não há necessidade em retirar os animais de estimação da casa, como muitos acreditam. Pelo contrário, se eles são de convívio da família, ainda que no momento inicial exista uma mudança de comportamento, irão se adaptar, cada um a sua maneira.

“Pelo instinto, os animais tentam proteger a grávida e a criança. Portanto, não há perigo desde que o animal esteja com a saúde e vacinas em dia, para evitar contaminação da gestante e do bebê”, explica Malu.

Preparação das famílias

“O bebê não é só do pai e da mãe, é de toda a família”, portanto, Midiã orienta que os pais preparem suas famílias, envolvendo todos os membros, principalmente se a família não tem bebê pequeno há muito tempo.

Além dos pais, os avós e tios também estão construindo sua identidade nesse novo papel, explica a psicóloga. Assim, os pais podem convidá-los para participar de algumas atividades, como consultas, compra do enxoval e até mesmo elaboração do chá de bebê, para incluir as famílias na preparação para a chegada da criança.

Além disso, a médica orienta que, por meio da conversa com todos os envolvidos, durante a gestação, os pais expliquem a linha que pretendem seguir com os filhos, para evitar futuros conflitos com seus familiares.

“Muitas vezes, os conflitos acontecem por falta de conhecimento da decisão dos pais. Assim, com o diálogo, há espaço para eles possam exercer sua paternidade com o respeito dos familiares”, destaca Malu.

Tempo de qualidade durante a gestação

Por fim, mas não menos importante, o casal deve cuidar para reservar tempos de descanso com qualidade durante a gestação, inclusive com a prática de atividade física. “É fundamental que os pais tenham tempo para cuidar de si fisicamente, psicologicamente, espiritualmente e também como casal, para que o bebê, ao nascer, encontre pais saudáveis, em uma relação saudável, para se desenvolver de forma saudável”, orienta a psicóloga.

Além disso, é importante que os pais construam formas de se vincularem com a criança desde o ventre, seja com conversas, leituras, preparação do ambiente, seja até mesmo com a escrita de cartas para que ela leia quando for adulta. “Quando se lê para os bebês, embora não consigam entender, eles percebem a sonoridade. Momentos prazerosos como esse, inclusive de atividade física, lazer, descanso, repercutem diretamente no desenvolvimento futuro da criança”, conta Midiã.

Independentemente das escolhas para a preparação do nascimento do primeiro filho, Malu orienta que a família busque vivenciar cada processo com o coração aberto para as surpresas que virão, tendo o cuidado de não se apegar nas expectativas idealizadas, pois com a chegada de cada bebê, nasce uma nova realidade.

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