É comum que se associe as reclamações dos filhos à adolescência. Mas às vezes essa característica pode se manifestar muito antes.
É comum que se associe as reclamações dos filhos à adolescência. Mas às vezes essa característica pode se manifestar muito antes.| Foto: Bigstock

É um clichê típico de adolescente: reclamar de quase tudo, praticamente o tempo todo. Só que às vezes essa característica pode se manifestar muito antes da conturbada fase de mudanças hormonais. Os pais podem interferir, e inclusive, estimular atitudes assim. O Sempre Família ouviu especialistas para ajudar a desvendar e resolver esse comportamento.

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Era uma choradeira que deixava a Mariana Lopes Camargo desesperada. A advogada não sabia o que fazer quando o primeiro filho tinha quase 2 anos e começava a chorar sem motivo aparente. Com o tempo ela percebeu que era a forma de conseguir algo que ele queria. “Eu ficava tão incomodada por ele estar chorando que fazia qualquer coisa para ele parar”, revela.

Com o tempo, Mariana e o marido perceberam que essa atitude era o que incentivava o choro do filho. “Ele usava isso, como se fosse uma manha. Claro que não era intencional, mas de alguma forma acabamos validando o que ele fazia”, diz a advogada. É exatamente essa a reflexão sugerida pelos especialistas.

Reclamar pode esconder uma mensagem

Thaise Tacla, psicóloga e coordenadora do curso de Psicologia da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), orienta que os pais observem o comportamento das crianças. “Se de repente começou a reclamar essa questão pode ser alguma angústia, algo que está incomodando”, ensina. Pode ser, também, apenas a forma como a criança chama a atenção para receber carinho ou um agrado, de acordo com ela.

A psicóloga também explica que a função desse reclamar exige que as necessidades da criança sejam observadas, para garantir que estejam sendo atendidas. “Às vezes revela que ela fala, fala, fala e não é ouvida”, reforça Thaise. Aí o que sobra é reclamar.

E quando a adolescência chega, é mais normal que esse comportamento predomine. “É uma ruptura. São muitas mudanças biológicas e psicológicas. O adolescente fica com a sensação de invalidação das emoções e dos sentimentos e passa a reclamar, reclamar, reclamar”, afirma a psicóloga.

A educadora parental e pedagoga, Caroline Costa, acredita que o comportamento da família pode reforçar esse perfil, mas lembra que cada pessoa é diferente da outra. “Tem que ter um estudo da família para saber como é dentro de casa. Tem aluno que quando não tira nota muito boa fica frustrado porque os pais elogiam muito, então fica com medo de decepcionar os pais”, alerta.

Com as reclamações, o ambiente também interfere. Caroline destaca a importância de ensinar os filhos a lidarem com as emoções. “As crianças observam muito e a gente age muito no automático”, aponta ela, que completa: “É muito mais ouvir e acolher, entender o porquê de tantas reclamações e ajudar a resolver os motivos”.

Nem sempre é ruim

Reclamar, por outro lado, faz parte do desenvolvimento das crianças. “Esse trabalho socioemocional ajuda a identificar e lidar com as suas emoções, é uma forma de comunicar uma insatisfação”, esclarece Caroline.

Essa reflexão crítica sobre o próprio comportamento é importante até para os adultos, como elucida Thaise. “Canalizar esse reclamar para uma sugestão, para proporcionar melhora e trabalhar o pensamento crítico traz a flexibilidade de olhar, a empatia e, por fim, a resolução de problemas”, conclui.

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