Jonathan Campos/ Gazeta do Povo
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Um nariz de palhaço, uma peruca e um figurino semelhante ao de seu pai são os brinquedos favoritos de Cartita Junior, de dois anos, que estreou nos palcos do circo há três meses. O pequeno artista é a quinta geração de palhaços de sua família, que há pelo menos 50 anos ganha a vida nos picadeiros.

De pai para filho: quando a profissão também está no DNA

Cartita Junior é filho do palhaço equatoriano Cartita (Rodolfo Ernesto Burbano), de 24 anos, e da bailarina brasileira, Sabrina da Paixão, de 23. E por mais inusitado que possa parecer, o casamento desses dois artistas que passaram suas vidas se apresentando no picadeiro, só poderia acontecer mesmo debaixo das lonas de um circo.

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Essa união diferente, mas autêntica, aconteceu no ano passado, no circo Vostok, onde a dupla atua. Não faltaram gargalhadas e muita festa durante esse “espetáculo” curioso, que uniu os personagens mais importantes dessa história. Para celebrar essa nova etapa da vida dos dois, os familiares do noivo viajaram 4 mil quilômetros de distância entre o Equador e Curitiba, cidade em que está o circo. “A presença dos meus pais e da minha irmã foi muito importante para mim”, conta o palhaço.

Já os pais de Sabrina, que são argentinos, trabalham há anos no Brasil, e enfrentam um cenário comum para alguns artistas circenses. “O circo que a gente se apresentava foi fechado e para continuar com a tradição circense da minha família, resolvi me mudar depois que me apaixonei pelo Rodolfo”, lembra Sabrina. “Namoramos por sete meses pela internet até ele decidir morar no Brasil”.                                                              

Talento que está no DNA 

Nada convencional, a família Burbano acorda e dorme junto em seus trailers que trouxeram do Equador. O avô de Cartita Junior, Pastelito, de 44 anos, só saiu de seu país depois que Cartita se apaixonou pela brasileira Sabrina. “Foi um momento decisivo para nossa família. Nunca tínhamos ficado longe tanto tempo um do outro”, recorda. “Além disso, a gente também enfrentava uma crise no Equador. Mas aqui conseguimos estabilidade”, garante o palhaço.

Junto com ele veio sua esposa, a atiradora de facas, Lourdes Jessênia, de 45 anos, e a filha mais nova, Korina Burbano, de 18, que se apresenta em um número de mágicas. “Ser palhaço de circo é um privilégio e uma carga muito forte também. Sempre expliquei isso ao meu filho e agora deixo esse legado ao meu neto”, conta ele que já foi acrobata e domina todos os números possíveis na arte circense.

“Ser palhaço de circo é um privilégio e uma carga muito forte também. Sempre expliquei isso ao meu filho e agora deixo esse legado ao meu neto”

Já deu para notar que tanto talento assim veio de berço. No entanto, como outras pessoas de sua família, Cartita estudou no Equador e tem um curso de mecânico. “Um primo nosso ficou em nossa cidade e abandonou a tradição da família para seguir outra carreira. Não é algo comum. Mas temos essa escolha”, afirma Cartita.

É que apesar de as crianças da família Burbano crescerem no circo, eles são sempre incentivados a buscar aquilo que os faça feliz, quando crescem. A coincidência é que mesmo podendo ser mecânico, por exemplo, o circo é o faz Cartita ser completo. “É uma profissão como qualquer outra, com horários e regras a cumprir e muitas obrigações, mas viver no circo é algo bonito. Aqui temos a possibilidade de ter toda nossa família unida”, explica ele.

E apesar de parecer ser muito cedo para afirmar algo com tanta clareza, esse também parece ser o caminho que o pequeno Cartita Junior seguirá. “Ele nasceu em Curitiba e já segue meus passos. Tem o nosso talento no sangue”, afirma o pai orgulhoso por poder continuar a tradição de uma família de palhaços.

“Aos meus amigos que não têm filhos”: um texto de emocionar qualquer pai ou mãe

As apresentações que o palhacinho faz no circo são de explodir qualquer “fofurômetro”. “É um orgulho saber que ele nasceu com essa vocação e vai continuar com a tradição dos homens da família de meu marido”, diz Sabrina. “Tudo isso é muito lúdico para ele, mas não é simplesmente pintar o rosto de palhaço, se não for ele mesmo querendo estar lá no picadeiro. O dia em que ele não participa dos ensaios com a gente, reclama e até chora”, brinca a mãe.

Para o pai do bebê, ser palhaço é ‘ser um malabarista de emoções’. E compartilhar o picadeiro com toda sua família é um privilégio. “Decidimos seguir a tradição da família e meu bisavô permitiu que seguíssemos sua linhagem. É um grande orgulho para gente”, contou Cartita.

Circo Vostok: uma nova oportunidade 

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Segundo Cartita, o circo Vostok foi um divisor de águas em sua vida. “Cada país ocupa um espaço importante no meu coração. Mas o Brasil transformou minha história. Aqui já passei por Santa Catarina, São Paulo e o Paraná. Além de conhecer muitas pessoas boas, o circo me possibilitou ter minha família completa perto de mim”, festeja.

De acordo com Fernando Fisher, gerente do Vostok, 14 famílias atuam em diversas funções no circo. “Para ter essa qualidade no espetáculo e uma boa estrutura é necessário ter uma equipe grande, tanto na parte do elenco como na equipe que faz a manutenção do circo”, explica.

A família Burbano encontrou no Vostok uma oportunidade para continuar essa missão que ultrapassa gerações. “Eles fazem números incríveis e fizemos o convite para integrarem nossa trupe.

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