O estresse excessivo e bastante danoso que pode resultar do acúmulo de funções durante o isolamento tem nome: burnout parental
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Além de todas as complicações que a pandemia do novo coronavírus traz à nossa rotina, a quarentena, ainda que seja necessária no combate à Covid-19, colocou boa parte das famílias em uma situação complicada: ter que manejar um acúmulo enorme de tarefas. Cumprir com as metas do trabalho, realizar as tarefas domésticas, acompanhar as atividades escolares das crianças e, além disso, prover entretenimento para elas, tudo ao mesmo tempo, não é fácil. O estresse excessivo e bastante prejudicial que pode resultar desse processo tem nome: burnout parental.

Quando entrevistei a psicóloga Andreia Moessa de Souza Coelho para entender mais sobre o assunto, ela estava justamente nesse contexto de acúmulo de tarefas – Andreia conversou comigo nas pausas que encontrou entre a atenção que despendia aos quatro filhos.

A psicóloga recorda que o próprio motivo de ficarmos em casa – a pandemia – já não ajuda a lidar com o burnout. “É uma situação que em si mesma é geradora de estresse. Com o acúmulo de funções, cada pessoa sente esse estresse de forma diferente”, explica Andreia. “Alguns sentem uma irritabilidade muito forte e perdem a paciência mais vezes. Outros sentem muita dor de cabeça”. Como os sinais variam de pessoa para pessoa, as soluções também precisam atender à necessidade de cada um. Algumas dicas, porém, podem ser úteis para todos.

  1. Esclareça a situação para todos os envolvidos
    A primeira dica de Andreia é justamente deixar claro para todo mundo que está acontecendo um acúmulo de funções. “Não dá para tentar trabalhar como se não estivéssemos cuidando das crianças e nem cuidar das crianças como se não estivéssemos trabalhando. Temos que contar para as crianças que estamos cuidando delas, mas que estamos dividindo essa atenção com o trabalho, e temos que contar para os empregadores que eventualmente vamos ter que ir ao banheiro limpar o bumbum de uma criança no meio de uma videoconferência”, orienta a psicóloga. “É preciso pôr palavras para dar contorno à situação”.
  2. Deixe a idealização de lado

    Acolher a peculiaridade da situação e, assim, fugir da idealização a respeito das tarefas que precisamos desempenhar, é um caminho para lidar com o momento. “O que leva a um estresse maior é o fato de tentarmos atender a um ideal de trabalhar ou de cuidar dos filhos como se não estivéssemos acumulando tarefas”, avalia a psicóloga. “Achamos que vamos conseguir ter a mesma produtividade mesmo acumulando funções. Se de saída já conseguíssemos imaginar que o possível é diferente do que idealizamos, pelo menos retiraríamos de nós o sentimento de frustração de não produzir da mesma forma que produzíamos antes”.
  3. Flexibilize as regras da casa

    Em uma situação extraordinária como a atual, ter muito zelo e apego às regras de convívio que estabelecemos para o nosso lar pode não ajudar. “Às vezes, para conseguir fazer uma videoconferência, vamos ter que sugerir à criança que veja um filme num momento que não era habitual para esse tipo de atividade”, exemplifica Andreia. “É preciso flexibilizar as regras, sabendo que é um momento peculiar e que temos que lidar com ele”.
  4. Estimule a autonomia de seus filhos

    Uma maneira de aproveitar positivamente o convívio mais intenso com a família é acompanhar os filhos no desenvolvimento de sua autonomia. “Ajuda muito aproveitar esse momento para ensinar às crianças sobre a responsabilidade coletiva pela casa, envolvendo-as, criando um clima de colaboração e entendendo como cada uma pode ajudar, mesmo em pequenas tarefas”, sugere a psicóloga. “Vamos ter que dizer para elas que todos temos que se reinventar e estimulá-las a ser mais independentes”.
  5. Dedique alguns momentos exclusivamente ao lazer em família

    “É importante tentar separar momentos de trabalho de momentos de entretenimento”, indica Andreia. “Se não for possível todo dia, que pelo menos alguns momentos da semana sejam voltados exclusivamente para o lazer. As famílias passeavam e agora já não podem mais fazer isso. Vamos fazer um momento de jogos ou mesmo um momento de diálogo, ouvindo como está sendo para todo mundo a situação atual. O importante é fazer acontecer um momento que seja prazeroso”.
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