Mesmo que os pais evitem brigar na frente dos filhos, as crianças percebem que há algo errado e isso lhes traz insegurança.
Mesmo que os pais evitem brigar na frente dos filhos, as crianças percebem que há algo errado e isso lhes traz insegurança.| Foto: Bigstock

Lidar com as diferenças de uma relação a dois não é tarefa fácil e tudo fica ainda mais complicado se os filhos estão “no meio”. As discussões podem se tornar frequentes e a criança acabar exposta a um ambiente pouco saudável. Mas, calma, é normal que tudo isso aconteça e, segundo os especialistas, tem como amenizar as consequências.

“Onde há relacionamento há atrito, porque a gente está sempre em contato com o outro, que é diferente da gente”, afirma o psicoterapeuta Gustavo Lacatus. Ele ressalta que mesmo nos casos em que o relacionamento termina, o casal continua sendo pai e mãe, então, o vínculo permanece. O ideal, quando uma crise se instala, segundo Lacatus, é conversar com a criança de acordo com o que a idade dela permite compreender.

Para Marjorie Wanderley, especialista em saúde da criança e do adolescente, é fundamental que a clareza seja moderada, porque em muitos casos os filhos não têm maturidade emocional para entender a situação. “O mais importante é esclarecer que eles não têm culpa do que está acontecendo. A criança preenche com fantasias tudo que ela não sabe e muitas vezes a imaginação faz o cenário ser pior do que a realidade”, destaca.

Mesmo que os pais evitem brigar na frente dos filhos, eles percebem que há algo errado e esse tipo de comportamento traz insegurança, afirma a psicóloga. Expor as discussões abertamente, por outro lado, também é prejudicial. “Situações de estresse fazem com que o organismo responda com alta liberação de cortisol no sangue, prejudicando o sistema nervoso central e as conexões neuronais, afetando o aprendizado”, completa Marjorie.

Sair do controle no relacionamento pode evoluir para algo tão grave como o cometimento de um crime. Pais em conflito que envolvem diretamente a criança, passando a denegrir a imagem do outro, podem ter a conduta caracterizada como alienação parental, crime previsto na Lei 12.318/10. O filho passa a ser objeto de vingança e os danos podem ser tão sérios se descobertos tardiamente, que as consequências são irreversíveis em alguns casos.

Bons exemplos são o segredo

Por isso, Gustavo Lacatus orienta que o trabalho de educar seja feito de bons exemplos. Pelo que afirma, os pais precisam reconhecer que a personalidade deles interfere diretamente no comportamento dos filhos. “Pais autoritários podem moldar filhos também autoritários ou passivos demais porque não conseguem se impor. Adultos que se alimentam mal, dificilmente conseguem convencer o filho a ter hábitos saudáveis. Não tem um modelo de criação ideal, mas esse modelo apresentado vai interferir porque a criança é uma esponja, absorve o que ela vê em casa”, conclui.

E já que os momentos difíceis vão aparecer no relacionamento, a dica da psicóloga Marjorie Wanderley é esclarecer que as crises são passageiras e que não há motivos para a criança se preocupar.

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