Além de avaliar a maturidade dos filhos, os pais precisam estar preparados para monitorar o uso do aparelho.
Além de avaliar a maturidade dos filhos, os pais precisam estar preparados para monitorar o uso do aparelho.| Foto: Bigstock

Viver sem um telefone celular é algo quase impensável nos dias de hoje. Não à toa existem mais aparelhos do que brasileiros no país. Um levantamento feito pelo Centro de Tecnologia de Informação Aplicada (FGVcia) da Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (FGV EAESP) mostra que são 234 milhões de smartphones em uso atualmente.

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E, de um ano pra cá, com as aulas à distância também para a educação infantil e ensino médio, um aparelho como esse se tornou ainda mais imprescindível. Só que decidir quando é o momento certo de comprar um celular para os filhos não é fácil.

Mais do que uma idade ideal, o importante é ter maturidade. É o que defende Carla Saad, psicóloga infanto-juvenil e mestre em educação. Para ela os pais precisam avaliar, em primeiro lugar, como funciona a dinâmica da família. “A gente tem que saber que o mundo virtual é perigoso, apesar de ser estimulante e interessante, possibilitar conhecimentos novos. Esses perigos são tão graves quanto os perigos da vida real”, alerta.

Os pais respondem pelos atos da criança e do adolescente e, por isso precisam conhecer os riscos para conseguirem orientar os filhos adequadamente. Danielle H. Admoni, psiquiatra da infância e adolescência na Escola Paulista de Medicina UNIFESP e especialista pela Associação Brasileira de Psiquiatria, explica que o risco é, também, o tempo de exposição às telas.

A Sociedade Brasileira de Pediatria preconiza que as crianças menores de 2 anos não devem ser expostas sem necessidade ou passivamente a esses eletrônicos. Entre os 2 e os 5 anos de idade o tempo deve ser de, no máximo, 1 hora por dia com a supervisão dos pais. Dos 6 aos 10 anos a exposição pode ser de até 2 horas por dia e, para os adolescentes, o tempo deve ser limitado a 3 horas diárias.

Cuidado não é invasão de privacidade

Com relação ao que os filhos fazem a partir do momento em que os smartphones estão acessíveis, Danielle orienta: “Do mesmo jeito que você sabe com quem seu filho anda, você precisa saber com quem ele fala na internet. O pai sabe o que filho assiste na TV da sala então precisa saber que vídeos ele vê na internet”. Ela comenta que são muitos os casos em que os pais descobrem coisas sobre os filhos apenas no consultório.

E não é uma questão de invadir a privacidade deles. A médica acredita que fazer tudo isso é participar da vida dos filhos. “É a mesma coisa que vale nas interações presenciais”, ensina. O descaso pode ser perigoso, de acordo com Danielle. Carla também alerta para os malefícios dos equipamentos eletrônicos. “Não é só para distrair. Tem graves problemas do uso excessivo. Obesidade, distúrbios de sono, problemas de comportamento, aumento de ansiedade, isolamento social e até prejudicar o pensamento criativo da criança”, afirma a psicóloga.

Outro efeito do uso prolongado é limitar o interesse da criança pelo mundo real, segundo Carla. “A tela gera um comportamento passivo. A criança não aprende a esperar, ter paciência, tolerar o tédio”, revela. Até problemas de aprendizado podem ocorrer porque a capacidade de concentração diminui.

Só que, como destaca Danielle, hoje é muito difícil segurar. “Seu filho não pode ser o único da sala que não tem um celular. Eles precisam se comunicar e chega uma hora que é difícil ficar só usando o telefone dos pais”, lembra.

O momento certo

Carla dá dicas para quem decide que esse momento chegou: além de avaliar a maturidade dos filhos, os pais precisam estar preparados para monitorar o uso. Dispositivos de controle parental devem ser configurados para limitar tempo e conteúdo acessado. O próprio comportamento também é relevante. “A criança vai copiar o que os pais fazem. Se eu quero limitar o tempo de uso do meu filho, preciso avaliar como está meu uso”, ensina.

Ainda, a psicóloga diz que é fundamental conversar. Expor os perigos, falar sobre respeito no mundo virtual e cyberbullying. Até o cuidado com o aparelho deve ser analisado. Para Carla, até os 8 anos de idade, a criança vê um celular como um brinquedo. Por fim, estabelecer as regras de utilização e especificar quais as consequências pelo descumprimento do acordo.

Impor restrições é fundamental, na opinião da psicóloga. Durante as refeições, por exemplo, celular é proibido porque pode prejudicar o apetite. Uma hora antes de dormir, os dispositivos devem ser desligados e deixados fora do quarto. Novas ideias que promovam a interação da família também podem ajudar. “Por que não convencionar um dia sem eletrônicos? Assim mostramos pras crianças que é possível ter prazer com outras coisas”, conclui Carla.

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