Mesmo à distância, os pais devem manter contato com os filhos e garantir a eles que a mudança é o melhor para sua saúde
Mesmo à distância, os pais devem manter contato com os filhos e garantir a eles que a mudança é o melhor para sua saúde| Foto: Andrea Piacquadio/Pexels

Sem a opção de atuar em regime de home office ou de deixar seu emprego para manter o isolamento social durante a pandemia de Covid-19, a curitibana Joice Pontes Torres precisou tomar uma decisão difícil para garantir a saúde dos filhos. “Como eu e meu marido trabalhamos juntos no mercado da família e estávamos com medo de pegar essa nova doença, conversamos com os avós das crianças para que cuidassem dos netos neste período”, relata a comerciante.

Mãe da Ísis e do Pedro – que sofrem com problemas respiratórios –, ela sabia que as crianças estariam mais protegidas dessa forma, mas que sentiriam falta dos pais e precisariam de atenção, mesmo à distância. Por isso, começou a realizar chamadas de vídeo com frequência, mandava fotos e evitava falar da saudade que sentia para não preocupar os filhos de 3 e 5 anos. “Fiquei muito triste por estar longe deles, mas não demonstrava isso”, conta a paranaense, agradecida por ter pessoas de confiança atendendo seus pequenos durante a pandemia.

De acordo com a psicóloga Simone Nosima, situações como a de Joice se tornaram comuns nos últimos meses e garantem mais segurança aos pais que continuam trabalhando fora. No entanto, alguns cuidados são necessários para evitar traumas emocionais, problemas de comportamento e dificuldades para retornar à rotina quando tudo passar. “Principalmente porque a maior dificuldade para as crianças é a ausência dos pais”, aponta a especialista em comportamento infantil.

Então, é preciso que os adultos falem a verdade aos filhos a respeito do que está acontecendo, expliquem que ficar na casa dos avós é o melhor para sua saúde atualmente e que eles terão várias oportunidades de matar a saudade, mesmo longe. “ Para isso vale enviar mensagens, fazer videoconferências ou deixar bilhetinhos na caixa de correio”, indica Simone, ao sugerir ainda que os pais deixem algum objeto seu para que o filho possa cuidar. “Pode ser um instrumento musical, um livro ou até mesmo uma peça de roupa com o cheiro da mãe”.

Além disso, é importante manter detalhes da rotina familiar durante os encontros em vídeo, como contar aquela história que a criança adora ouvir, mandar um beijo na hora de ir para a cama ou cantar a música que ela mais gosta. “O importante é usar a criatividade para fazer um pouco do que estavam acostumados antes, pois isso traz sensação de importância e de proximidade”.

Só que a psicóloga afirma que os pais não precisam esconder seus sentimentos durante esses encontros virtuais, pois falar o que sente é positivo para toda a família. “Você pode dizer que está com saudade e, ainda assim, reforçar a importância de as crianças continuarem com os avós neste período”, ressalta a especialista, ao orientar os adultos a explicarem o motivo de suas lágrimas durante uma chamada de vídeo, por exemplo. “Diga que emoção é assim mesmo e que a gente não precisa segurar o que sente, mas que, mesmo com tanta saudade, vocês devem continuar afastados mais um pouquinho para a segurança de todos”.

E se os avós mimarem demais os netos?

Outra situação que pode acontecer neste período é a criança se acostumar com poucos limites e a falta de horários pré-estabelecidos já que, de acordo com Simone, é comum os avós mimarem bastante seus netos. “No nosso caso, por exemplo, meus filhos passaram a ser tratados como reis na casa dos avós”, comenta a curitibana Joice Pontes Torres.

Por isso, é importante que a família converse a respeito da rotina das crianças e defina com os avós algumas regras e orientações que devem ser mantidas. “Mas nada muito estrito porque, mesmo que as crianças estivessem em casa nesse momento, os pais também reavaliariam algumas situações”, pontua a psicóloga. Além disso, “lembrem que o amor e cuidado nesse momento são os fatores mais importantes”, finaliza.

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