Ajudar demais ou dar espaço para a mãe. Como deve ser o envolvimento dos avós no pós-parto
| Foto: Wayne Evans/Pexels

Enquanto os pais aguardam com ansiedade para conhecer o rosto de seu bebê e começam a desenhar o futuro da criança antes mesmo de abraçá-la, os avós também sonham com o novo membro da família e se preparam para participar ativamente no processo de crescimento do neto ou neta que está a caminho.

No entanto, nem sempre os objetivos dessas duas gerações estão alinhados, e diversos problemas em relação aos cuidados e à educação da criança podem aparecer logo após o nascimento, como aconteceu com a paulista Ana Caroline, de 25 anos.

Mãe do pequeno Yuri, a moradora de Osasco abriu sua casa durante o período pós-parto para que as duas avós estivessem presentes nos primeiros momentos de vida do bebê e a ajudassem na nova rotina. Só que a tentativa não deu certo, porque uma das convidadas começou a desafiá-la. “Ela queria que tudo fosse feito do jeito dela, mimava demais meu filho e chegou a pedir para levar o recém-nascido para a casa com ela”, conta, indignada. “É como se não entendesse que havia limites, regras e que cada um deveria respeitar o espaço do outro”.

Empatia

Situações como a descrita por Ana Caroline são mais comuns do que se imagina e, de acordo com a psicóloga Iara Laís Raitz, começam muito antes do parto, no relacionamento diário entre mãe e filha ou sogra e nora. “Se essa relação costuma ser difícil, tende a continuar assim após o nascimento do bebê”, afirma a especialista. “Já em um relacionamento de cumplicidade, abertura e conversa, as coisas serão bem mais fáceis”.

E isso acontece por um motivo simples: o ser humano precisa dizer o que sente, principalmente em momentos delicados como o pós-parto, em que mãe e avó assumem novos papeis. “Em algumas famílias, essas mulheres acabam recebendo apenas cobranças e não são ouvidas”, explica Iara, que aponta a empatia como princípio fundamental para guiar os envolvidos nesse momento. “É preciso se colocar no lugar um do outro para entender se deve ajudar fazendo companhia, limpando algo ou simplesmente deixando aquela pessoa sozinha”, explica.

“É preciso se colocar no lugar um do outro para entender se deve ajudar fazendo companhia, limpando algo ou simplesmente deixando aquela pessoa sozinha”

No caso da fisioterapeuta Andressa Karoline de Jesuz, por exemplo, bastava fazer com que ela se sentisse importante, assim como seu bebê que havia acabado de nascer. “A rotina da nova mamãe é tão intensa que a gente nem come, porque não sobra tempo para lembrarmos disso”, conta. “Então, minha mãe fazia minhas refeições, cuidava da Ana Luiza enquanto eu dormia e perguntava o que eu estava precisando”.

Além disso, sempre que trazia presentes para o bebê, a avó também levava algum mimo para Andressa e fazia questão de perguntar o que ela desejava comer naquele dia. “Aí preparava o que eu gosto, me tratava com carinho e nós conversávamos o dia inteiro”, recorda a curitibana, agradecida. “Esse gesto de olhar para mim e não só para o bebê me marcou, porque ela percebeu que ali tinha uma recém-mãe, em um mundo totalmente novo, que precisava de atenção”.

Relações delicadas

Reciprocidade como essa é mais comum em famílias que já têm um bom relacionamento, mas Iara afirma que a maternidade também traz uma nova chance para quem não se dá tão bem. “Em relações delicadas entre mãe e filha, por exemplo, a jovem pode passar a entender melhor sua mãe, agora que está em um papel igual, enquanto a avó pode perceber erros que cometeu e agir de forma diferente”, comenta a especialista, ao afirmar que cada indivíduo tem sua maneira de lidar com a situação.

Inclusive, ela aponta que nem todos os avós sentem vontade de acompanhar o crescimento de um neto, assim como existem mães e pais que preferem aprender tudo sozinhos. “E está tudo bem, porque cada indivíduo é único”, garante. Só que, em qualquer situação, os envolvidos precisarão falar com os demais a respeito de suas preferências. “Afinal, à medida que as coisas são ditas, tudo se facilita”, assegura a especialista.

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