Enquanto a educação avança lentamente, é preciso ensinar filhos adolescentes que não basta criticar, é preciso ser agente de mudança.
Enquanto a educação avança lentamente, é preciso ensinar filhos adolescentes que não basta criticar, é preciso ser agente de mudança.| Foto: Bigstock

Não é de hoje que pais escutam seu adolescente reclamar da escola. Também fui crítica ferrenha dela. Nem por isso me eximi de responder às responsabilidades inerentes a ela como o de, por exemplo, passar de ano independente da utilidade do conteúdo ensinado. A crítica ao modelo escolar perdura e a relação adolescente e escola continua ruim; cada vez pior, infelizmente.

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As críticas tem sua razão de ser. Por mais que insista em convencer filho da importância da profissão "estudante", entendo seus questionamentos e frustrações. Por outro lado, ciente do complexo desafio de mudar o padrão construído ao longo de décadas, entendo ser problema de raízes mais profundas que exige esforço e empenho de diferentes atores do contexto... e tempo. Enquanto a mudança avança lentamente, continuo perseverando em persuadir filho a concluir sua formação escolar com a responsabilidade. As críticas ao ensino atual não podem servir de muleta para justificar sua displicência como estudante. "Filho, é o que temos pra hoje", costumo lhe repetir, "Portanto, faça a sua parte".

Escola e vida real

Também vivi relação de amor e ódio com a escola. Também fui exigida por notas em detrimento à utilidade do conhecimento ensinado. Lembro de decorebas, respostas repetidas e, sobretudo, entregas de trabalhos em conformidade com o pensamento – e expectativa – do professor. Nada fugia ao script; tudo precisava estar dentro do esperado.

Adulta, segui carreira executiva e, curiosamente, fui cobrada do contrário do vivido na escola. Para crescer na profissão, precisei desenvolver criatividade, "pensar fora da caixa", como muito escutamos por aí. Foi-me exigido questionar o status quo e inovar. Ousadia passou a ser competência preciosa... a ser desenvolvida.

Danos maiores do que imaginava

Notas escolares e resultados de boletim denunciavam a incoerência entre o ensino e a prática. Estudantes de sucesso não necessariamente se tornaram adultos competentes em sua profissão e a equação adolescente e escola não refletia exatamente um futuro previsível de prodígios. Formar adulto competente para a vida, infelizmente, continua defasada. O modelo de ensino é o mesmo desde a era industrial.

O mundo, por sua vez, mudou: a era tecnológica e o próprio homem hoje parecem incompatíveis com o modelo de décadas atrás. Porém, é o que temos pra hoje. Entendo – e, às vezes, até concordo com – as críticas ao modelo escolar. Contudo, vejo o esforço empregado pelos diferentes atores da necessária mudança. Assumo também minha parte neste processo: enquanto cobro notas de filho, luto para salvaguardar a criatividade de filho ciente de que, mais adiante, será competência valiosa em sua vida.

Novas críticas à escola

Fomentar senso crítico passa por desenvolver opinião fundamentada, competências vitais a uma sociedade madura e educada, principalmente no mundo "de hoje" tão cheio de possibilidades. Um dia, reclamei das notas escolares com filho adolescente que logo retrucou: "Saco, mãe! Tirei nota baixa porque não respondi exatamente do jeito que a professora queria. A escola não serve pra nada e as matérias, idem!" Até esperaria críticas às disciplinas "nada a ver com a vida real" que um dia também condenei mas nem de longe imaginei aquela justificativa à sua nota baixa. Surpresa e curiosa, quis saber mais. Novas variáveis pareciam despontar no circuito escolar.

A régua das notas escolares

Continuo cobrando notas escolares de filho. Apesar de não ser esta a relação adolescente e escola desejada desde minha própria experiência como aluna, me vejo forçada a reiteradamente reforçar: "Filho, o sistema não é perfeito mas é o que temos pra hoje. Cumpra sua parte com responsabilidade e contribua com uma discussão em busca de melhorias... não só de críticas".

Enquanto não mudamos, discutimos possibilidades. Tal qual treinamentos corporativos pretensamente desenvolvedores da criatividade e de capacitação a resolução de problemas, incito filho adolescente a sugerir saídas em vez de apontar defeitos; a contribuir enxergando de diferentes ângulos o problema que, não por acaso, perdura há tempo.

A relação adolescente e escola baseada no que temos pra hoje está bem longe do que gostaria que fosse a educação formal de filho. Consciente da pouca autonomia que tenho para efetuar mudança estruturais, debato o tema como meio de formar adulto crítico mas também colaborativo e responsável.

O que fazer com o que temos pra hoje

Discutir o tema em família está ao alcance dos pais e ajuda filho a desenvolver competências úteis e valiosas à sociedade. Está em nossas mãos educar filho a se posicionar com ideias fundamentadas sem perder de vista o cumprimento do dever que, no caso, é se dedicar a tirar boas notas escolares. Afinal, é o que temos pra hoje.

Assim, sem devaneios e discursos inúteis, nos atemos ao que a vida invariavelmente demanda: entregar resultado. Isso não me impede, contudo de aprender sobre as novas necessidades e ajudar filho a formar opinião própria e manter seu compromisso como estudante. É o que temos pra hoje!

A ineficiente relação adolescente e escola não pode servir de desculpa para uma atuação capenga. Enquanto detectamos – e discutimos – melhorias, precisamos responder ao que temos pra hoje com perspectivas de futuro pautado em competências fundamentais a uma sociedade efetivamente educada. A equação é difícil e demanda pais atentos e participativos para contribuir para – mais do que criticar – o complexo processo de mudança junto com educadores e alunos.

Enquanto a educação avança lentamente, ensino filho adolescente que não basta criticar: precisamos contribuir sendo o melhor que pudermos ser na atual circunstância... é o que temos pra hoje.

*Xila Damian é escritora, palestrante e criadora do blog Minha mãe é um saco!, espaço em que conta as situações cotidianas e comuns que vive sendo mãe de adolescentes, buscando desmistificar clichês sobre essa fase dos filhos, para transformá-la em um tempo de aprendizado.

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