Por que a liberação do aborto avança enquanto o homeschooling encontra resistência?
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Confesso que tentei. Procurei retirar de minha mente as imagens que vi das manifestações que antecederam a votação ocorrida na Argentina dias atrás, quando deputados e deputadas decidiram que o aborto deve ser permitido por lá. De um lado, um grande grupo de manifestantes pró-vida portando lenços azuis repetiam frases curtas em conjunto, e ao que me parece até faziam orações. De outro, um também grande grupo de pessoas, majoritariamente composto por mulheres e portando lenços verdes, avançando ferozmente sobre os contrários marcavam seus rostos com tinta, pintavam-lhes as calças na atura dos órgãos genitais, e esfregavam seios e outras partes do corpo sobre homens que passivamente postavam-se à frente, em defesa da vida.

Comecei a pensar como seria difícil explicar para crianças o que estava acontecendo. Melhor nem permitir que vejam estas imagens pois não entenderiam porque aquelas mulheres estavam eufóricas em razão da possibilidade de poderem condenar seus filhos não nascidos à morte, praticando o aborto sem impedimentos. E também porque comemoravam o alcance de um direito de decidir sobre os seus próprios corpos, com a consequência de rejeitar e destruir outras vidas, outras pessoas que também possuem corpos, mesmo que em formação, os quais caso fossem preservados em seus úteros poderiam também ser mulheres detentoras de direitos, sim fetos femininos que se fossem bem cuidados e nutridos, um dia talvez participariam de uma manifestação como aquela, restando a saber de qual lado.

Surge então um paralelo, que pretendo compartilhar aqui. É impressionante como a sociedade atual aceita e incentiva certos movimentos reivindicatórios, e despreza outros. E como este apoio pode focar-se em temas tão prejudiciais e nocivos, enquanto falta o devido reconhecimento e engajamento em prol de outros ideais profundamente revestidos de valor.

Uma sociedade tão sedenta pelo exercício pleno de direitos parece escolher cada vez mais o que interessa ao indivíduo, e menos o que este deve e pode fazer pelos outros.

Veja que o movimento pela concessão do direito ao aborto, e a luta pelo reconhecimento do direito fundamental dos pais de dirigir integralmente a educação de seus filhos, assentam-se à princípio em uma mesma base de argumentação, a da garantia de liberdade para exercer escolhas.

No entanto enquanto os adeptos da liberação abortiva embrenham-se em uma luta que resulta na desconsideração dos direitos legítimos do seus filhos ainda não nascidos, as famílias educadoras buscam garantir o direito de expressar plenamente seus laços naturais de afeto que as levam a agir no melhor interesse de seus filhos.

Portanto, mesmo assemelhando-se inicialmente, há imensa diferença entre estes dois temas, se avaliados sob a luz do melhor interesse da criança.

Então por que atualmente é mais fácil, aceitável, incentivado e reconhecido como uma “evolução civilizatória”, que um Estado Democrático conceda direitos aos abortistas, enquanto dificulta ou até mesmo impede que pais e mães dediquem-se integralmente a conduzir a instrução e a educação de seus filhos, somente porque o fazem a partir de um modelo diferente do que é imposto como único, normal e adequado?

Ouve-se que o aborto deve ser liberado devido aos danos que a prática de abortos inseguros pode causar às mulheres, e assim desprezam o fato de que há outra vida envolvida. Mas não se considera tão relevante que muitas crianças vítimas de  bullying ou que não adequam-se aos atuais ambientes escolares, possam ser cuidados por pais responsáveis que queiram proporcionar-lhes as melhores condições possíveis, e em ambientes seguros, suprindo-os de acordo com seus interesses.

Também afirma-se que o Estado não pode obrigar ninguém a ter filhos indesejados, porque isso constituiria-se em grave interferência à autonomia da mulher. “Meu corpo, minhas regras”, como se vê escrito em barrigas de manifestantes. De outro lado, parece soar estranho para muitos a ênfase ao direito natural das famílias criarem filhos com total liberdade, adotando os modelos educacionais que considerarem mais adequados, e recorrendo ao Estado somente se julgarem necessário.

Parece que o pretenso direto ao total domínio de si mesmo, mesmo incluindo consequências negativas a um outro ser indefeso, é até menos ofensivo do que o direito familiar de definir e propiciar o que for considerado como o melhor para o desenvolvimento dos filhos já nascidos.

Ao contrário do que muitos possam imaginar, nas famílias educadoras as mães não são figuras escravizadas por um poder patriarcal, que impõe a elas a dedicação exaustiva ao cuidado da casa e dos filhos, incluindo a condução das atividades pedagógicas ou educacionais. São mulheres que em muitos casos abdicaram de êxito profissional e de ganhos financeiros substanciais, optando livremente por um tipo de satisfação e de reconhecimento social derivados de seu trabalho no lar, algo pouco desejado pela maioria. Será que este tipo de escolha pessoal enfrenta mais preconceito e oposição do que a escolha pelo aborto?

Talvez você esteja considerando exageradas estas comparações. Respeito sua opinião. Apenas estou expressando ao mesmo tempo minha indignação contra o avanço do liberalismo que impõe a morte a inúmeros inocentes, e meu clamor para que a liberdade educacional seja reconhecida como algo tão nobre e justificável socialmente, a ponto de incendiar nossos corações e encorajar a defesa aberta e vigorosa dos muitos benefícios que  a educação domiciliar é capaz de produzir onde quer que seja praticada, inclusive na Argentina, foco inicial desta conversa.

O ideal seria que a eufórica marcha comemorativa que vi cruzar as ruas de Buenos Aires após aquela votação histórica não tivesse acontecido. Poderiam aguardar até o dia 15 de julho, e quem sabe empunhar bandeiras azuis celestes, com os pró-vida,  ao invés de lenços verdes, para talvez comemorarem juntos uma possível conquista da Copa do Mundo pela seleção argentina.

Mais perfeito ainda, que nos perdoem nossos vizinhos, seria muita festa verde e amarela ocorrendo por aqui exaltando mais um título mundial do futebol brasileiro, e principalmente, a liberdade educacional para todos.

Avante! Pela vida, e pelos nossos filhos !

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