É preciso tomar cuidado, neste momento, com a superproteção. Esse comportamento pode dificultar ainda mais a autonomia da criança.
O bullying pode ser um dos fatores que impedem a criança de fazer amigos, mas essa dificuldade pode vir de um traço de personalidade também.| Foto: Bigstock

Diversas crianças brincando e correndo na escola, mas uma delas está sentada sozinha em um canto. Embora possa parecer cena de filme, esse episódio acontece também fora das telas. E o bullying pode ser um dos motivos desse isolamento, mas não só.

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É que algumas vezes, por conta do temperamento mais tímido, a criança pode mesmo ter dificuldade para fazer amizades. E é importante lembrar que, durante a infância, a socialização é muito benéfica aos pequenos. Eles aprendem a lidar com as emoções e conflitos, adquirem o autoconhecimento, criam um senso de comunidade e exercitam a empatia.

Sandra Cristina Barbosa conta que os dois filhos, Maria Fernanda, de 11 anos, e João Lucas, de 4, são muito tímidos. Por isso, eles não têm tanta facilidade em fazer novas amizades. “Converso bastante em relação a isso com a Maria Fernanda, falo que não precisa ser amiga de todos, mas é importante ter uma relação cordial com os colegas. Esse ano, em alguns momentos, ela ficou sozinha porque a amiga faltava e ela não se enturmava. Ela ficava triste, pois lanchava sozinha. E seu rendimento também caia”, diz a mãe.

Ela explica que sempre conversa com os filhos e incentiva cada um deles a fazer amizades. “Depois de muita conversa, agora a Maria Fernanda tem três amigas. O rendimento escolar dela melhorou, mas pode ficar melhor. Sei que é o jeito dela, mas me preocupo”. A mãe afirma que sempre está atenta, pois, sabe do quanto são benéficos os vínculos na escola. “Como mãe estou sempre atenta a essas situações, pois sei que ter bons amigos faz muito bem para o desenvolvimento cognitivo e afetivo”, destaca.

Primeiro vínculo fora do ambiente familiar

Segundo Anderson Leal, consultor pedagógico da Conquista Solução Educacional, é na educação infantil que a criança começa a desenvolver habilidades e competências que contribuem para a socialização. Esse será o primeiro vínculo com alguém fora do ambiente familiar. “Ela precisará escolher os amigos e, nesse movimento, trabalhamos várias habilidades que a ajudarão a desenvolver competências, como a segurança, a autoestima, a empatia e a cooperação”, explica.

Além disso, os pequenos aprendem a lidar com as regras de convivência e também com frustrações. “As amizades contribuem muito para o desenvolvimento de quatro áreas fundamentais, principalmente para alunos da educação infantil. São elas: físico, cognitivo, social e afetivo. Existem pesquisas que mostram, também, que crianças com bons amigos tendem a ter um melhor rendimento escolar, contribuindo significativamente para sua autoestima”, afirma Leal.

De onde vem a dificuldade

A dificuldade para fazer amizades pode ser devido alguns fatores: traumas, como um abuso físico, moral ou sexual, que dificultam à criança se sentir segura; há também o bullying, que faz com que a autoestima diminua.

“Há ainda outra hipótese, de que esse seja apenas um traço de personalidade, como a timidez. Nesse caso, a criança tem facilidade de se relacionar, mas prefere por opção permanecer isolada. Precisamos observar se essa dificuldade está acompanhada de outras características como a irritabilidade, a tristeza e a falta de contato visual para poder entender”, afirma o consultor pedagógico.

De acordo com a doutora em psicologia do desenvolvimento e aprendizagem, Alessandra Falcão, os pais e professores, que perceberem essa dificuldade de interação social, devem incentivar as relações saudáveis, mas sem expor a criança em situações que sejam aversivas. “Também é importante buscar por ajuda profissional para encontrarem a melhor maneira de incentivar a criança e quais habilidades são importantes de serem ensinadas para facilitar as relações entre os pequenos”, indica.

A psicóloga orienta, ainda, que os pais observem algumas atitudes. “Isolamento social, tristeza, vergonha em excesso, baixa autoestima, não querer participar de atividades com outras crianças, não conseguir brincar com outras crianças, dificuldade em dividir suas coisas e choro excessivo”. Caso esses comportamentos estejam frequentes, a orientação é buscar um especialista ou a equipe escolar.

Sem superproteção

Entretanto, é preciso tomar cuidado com a superproteção nos filhos, pois isso dificulta o amadurecimento da criança também. “Não podemos ficar interferindo nos relacionamentos, porque isso não contribui para o desenvolvimento da autoestima e sim para o crescimento da insegurança das crianças”, diz Anderson Leal.

Portanto, aos pais cabe o estímulo a essas novas interações e não a imposição. “Ao proporcionarmos momentos de integração, como reunir os amigos para ir ao parque, ao playground do prédio, ao cinema ou até mesmo dentro de casa, fazemos com que esse convívio gere intimidade e, a partir daí, as relações vão se criando, a empatia vai surgindo naturalmente e a amizade vai sendo estabelecida”, finaliza Anderson.

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