A reprovação na escola é um momento muito difícil para os pais, porque gera um forte sentimento de fracasso.
Esse momento é muito difícil para os pais, porque gera um forte sentimento de fracasso.| Foto: Pixabay

Preocupada com as notas que a filha de 12 anos tirava nas provas, a publicitária Raquel Ferreira fez tudo o que podia para ajudar a menina a melhorar seu desempenho escolar. “Conversei com ela, coloquei em aulas de reforço e pedi que a trocassem de sala”, relata. No entanto, nenhuma das tentativas trouxe o efeito esperado, e a moradora de Araucária decidiu matricular a garota em outra instituição de ensino. “Infelizmente foi pior ainda, porque ela não conhecia ninguém no colégio novo, não conseguiu acompanhar a turma e desanimou”, recorda a mãe, que recebeu a triste notícia no mês de dezembro: sua filha havia reprovado no 6.º ano.

De acordo com a psicóloga Wélida Dancini, esse momento é muito difícil para os pais, porque gera um forte sentimento de fracasso. “Eles criam uma expectativa de como gostariam que a criança fosse e, quando há uma reprovação, se deparam com a realidade de que seu filho não é aquele que idealizaram”, explica. Além disso, sentem vergonha diante do julgamento das outras pessoas e frustrados pelo investimento financeiro que fizeram ou tempo que dedicaram.

No entanto, é necessário muito cuidado ao demonstrar esses sentimentos à criança ou adolescente, pois a situação também é bastante dolorosa para ele. “O estudante sente raiva, desânimo e muita vergonha por saber que seus colegas vão para a série seguinte, e ele não”, comenta Wélida, que ainda aponta o medo que os alunos têm de contar a notícia aos pais devido a castigos e palavras de humilhação que podem receber.

Portanto, pai e mãe devem se esforçar para compreender o filho e – por mais que estejam sofrendo com a notícia –, precisam acolhê-lo, demonstrando que o amam. “Ele necessita sentir que não está sozinho e que sua família vai ajudá-lo a analisar as falhas que levaram à reprovação”, pontua a psicóloga. “Ou seja, os pais terão que lidar com sua frustração antes de conversar com o adolescente, pois só assim encontrarão meios para superar aqueles problemas acadêmicos”.

“Ele [o aluno] necessita sentir que não está sozinho e que sua família vai ajudá-lo a analisar as falhas que levaram à reprovação”.

E foi isso que a publicitária Raquel decidiu fazer. Depois de ser avisada pela escola a respeito da reprovação da filha, manteve a calma e chamou a garota para conversar. “Lembro que ela estava brava com a situação, dizia que os professores não explicavam direito e que nem sabia por onde começar os exercícios”, conta a paranaense, que decidiu aumentar o tempo de estudos da menina em casa no ano seguinte e estabelecer regras para isso.

“Combinamos que ela dormiria mais cedo todos os dias e que nossa Wi-Fi seria desligada a partir de determinado horário”, recorda. Além disso, “ela chegaria todos os dias após a aula, comeria alguma coisa, descansaria e já repassaria a matéria, fazendo toda a lição de casa”.

Segundo a psicóloga, essa análise das falhas e o comprometimento em alcançar resultados positivos no ano seguinte faz com que o filho perceba sua responsabilidade pelo ocorrido, mas sem o sentimento destruidor da culpa. Assim, não fica desmotivado e entende que é capaz de conquistar seus objetivos. Afinal, “em vez de mirar no erro, foca nos certos ao ouvir que é inteligente, que consegue fazer aquilo e que os pais vão ajudá-lo, vão superar junto com ele”.

Isso também evita que o adolescente sofra com doenças emocionais após ser reprovado e, no caso de Raquel, incentivou sua filha a olhar a derrota como um fator de crescimento. “A reprovação ocorreu em 2016, mas ela melhorou nos anos seguintes, transformou nossas regras em rotina e, até hoje, nunca mais reprovou”, comemora Raquel.

Passo a passo para agir corretamente após a reprovação do filho:

  1. Controle suas emoções antes de chamar a criança ou adolescente para conversar.
  2. Respeite o tempo de seu filho e só fale a respeito do assunto quando todos estiverem em condições emocionais para o diálogo.
  3. Peça para que o adolescente conte o que ocorreu.
  4. Pergunte quais falhas ele percebeu durante o ano escolar que desencadearam na reprovação.
  5. Não permita que seu filho apenas aponte culpados, mas peça que liste as próprias falhas.
  6. Pergunte o que ele acredita que precisa fazer diferente no ano seguinte e como você pode ajudá-lo a alcançar esses objetivos.
  7. Assumam compromissos de mudanças e tomem atitudes na direção que estabeleceram.
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