Compreendendo que nosso cérebro não é multitarefa, de que maneira podemos ajudar nossos filhos a serem mais atentos?
Compreendendo que nosso cérebro não é multitarefa, de que maneira podemos ajudar nossos filhos a serem mais atentos?| Foto: Bermix Studio/Unsplash

Um pai fazendo lição de casa com a filha, a televisão ao fundo, a mãe participando de uma reunião virtual de trabalho, o outro filho ouvindo música, a máquina de lavar ligada. Essa é uma rotina bastante comum em diversas casas.

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Se pararmos para analisar, parece que as várias tarefas do dia a dia se sobrepõem. Mas isso não é verdade. Nosso cérebro não é multitarefa, isso é um mito. O cérebro é incapaz de prestar atenção contínua e seletiva a várias ações. O que estamos realmente fazendo é mudar de uma tarefa para outra muito rapidamente, sem perceber o custo cognitivo que isso acarreta.

Se pretendemos estudar enquanto olhamos para o celular, estamos mudando de tarefa. Ou seja, nosso cérebro passa alguns segundos em uma tarefa e depois na outra, e assim por diante. Essa alternância contínua de atenção leva a um aumento na produção de cortisol, que é o hormônio gerador do estresse.

Compreendendo que nosso cérebro não é multitarefa, de que maneira podemos ser mais atentos? Este é um dos grandes desafios da educação e dos pais. Mas aqui temos algumas maneiras de como ajudar nossos filhos nessa questão:

  1. Planejar

    Em primeiro lugar, devemos ensinar nossos filhos a planejar. Para isso, podemos usar organizadores de tarefas nos quais eles separam, a cada semana, quais atividades devem fazer, de quais assuntos e materiais precisam, quais são as que devem ser entregues antes, etc. Dessa forma, sua atenção estará voltada para aquilo que fará a cada dia. Claro, respeitando a idade de cada um.
  2. Rever

    Também é importante lembrar as crianças de verificar o status de seus deveres de casa de vez em quando. Desta forma, evitamos a dispersão e focamos nossa atenção no que temos que fazer e por quanto tempo.
  3. Dividir em grupos

    Devemos tentar agrupar aquelas atividades que são semelhantes. Já que vamos de uma tarefa para outra, é importante que sejam semelhantes. Dessa forma, podemos evitar o bloqueio mental que envolve a mudança rápida de foco.
  4. Encontre um local adequado para as tarefas

    Em casa, é vital que as crianças tenham um lugar para estudar. Uma mesa larga e, se possível, branca; luz natural; sem muito barulho; ambiente livre de distrações (móbiles, brinquedos, fotos ...) e que tenha ventilação. O local onde atuamos é fundamental para valorizar a atenção.
  5. Elimine distrações

    Nesse sentido, é importante que nos esforcemos para eliminar distrações. Para isso, devemos trabalhar com as funções executivas de nossos filhos, aquele tipo de atenção deliberada que requer concentração e tempo.

    É importante trabalhar com eles no controle inibitório, ou seja, tentar evitar respostas automatizadas, ensinando-os a pensar antes de responder, bem como a flexibilidade cognitiva, ou seja, mostrar capacidade de adaptação às mudanças.

    Trabalhar com esses tipos de habilidades também desenvolve o córtex pré-frontal do cérebro, uma área responsável pela vontade, autocontrole e planejamento, essenciais para ativar a atenção das crianças. Existem muitos jogos disponíveis na internet para trabalhar essas habilidades.
  6. Explique a tarefa

    É importante conversar com crianças e dedicar tempo para explicar sobre o que devem fazer. Eles devem aprender a refletir sobre o que fizeram e ver se alcançaram o objetivo que procuravam.
  7. Tempo de atenção

    Para que aprendam a ter foco, a cada dia estipulem a meta de jogar algo e escolham um momento por consenso. Individualmente ou com os pais, o tempo deve ser dedicado única e exclusivamente ao jogo escolhido. Não pode haver distração. É necessário aprender a focar a atenção 5 ou 10 minutos por dia em uma atividade específica.

    É significativo que, sabendo que a atenção nasce do deslumbramento, não paremos de estimular as crianças. Devemos deixá-los procurar conhecimento, estímulos que os atraem em detrimento dos outros.
  8. Contato com a natureza

    O contato com a natureza também é importante. Uma escapadela em família para o campo, para uma floresta, parando para ouvir como corre a água do rio, a cor das folhas; colocando pequenos desafios, procurando três cores diferentes de folhas, encontrando gravetos ou nuvens com formatos diferentes. Estas atividades ajudam a focar a atenção.
  9. Dê exemplo

    Não podemos dar as costas à sociedade em que vivemos, uma sociedade com pressa, de multitarefas, de internet. A preocupação dos pais com a internet e seu uso é imprescindível. A melhor forma de educar online é primeiro prepará-los sem estar conectado. Para isso, os filhos devem ser ensinados a ouvir, a ser críticos, a selecionar estímulos significativos. Devemos também ser um exemplo. Não podemos pedir a uma criança que gaste menos tempo no tablet quando não paramos de usá-lo.
  10. Descanso para o cérebro

    Devemos ensinar os filhos a compreender que seus períodos de atenção duram algum tempo. Por exemplo, para crianças da escola primária são aproximadamente 15 a 20 minutos. Então tudo que ultrapassar esse tempo não será atendido. Por isso, é bom aprender a fazer pausas para o cérebro. Essas pausas diminuem o estresse e aumentam a concentração.

    Também é importante saber o nível de dificuldade exigido pela tarefa que devem realizar. Temos que avaliar bem porque, se a tarefa for muito difícil, a criança não se conecta (vê como impossível) e se for muito fácil, se torna enfadonha e também não prende a atenção.

*Maria de Hontanares López Águeda é professora do Mestrado em Neuropsicologia e Educação da Universidade Internacional de La Rioja.

©2021 The Conversation. Publicado com permissão. Original em espanhol.

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