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A importância da família na vida escolar do aluno é consenso entre educadores. Há abundância de evidências que constatam a diferença que pais e mães participativos fazem no desenvolvimento intelectual de um estudante, mas o fato de se ter consciência sobre essa verdade não faz com que as escolas saibam usá-la em sua rotina. A simples convocação frequente de reuniões com pais e mães é pouco quando se quer aproximar os dois ambientes mais relevantes na vida de uma criança.

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Um dos pontos fracos da relação escola-família no ensino público brasileiro, afirmam estudiosos do assunto, está justamente na falta de sistematização. As melhores práticas quase sempre partem de um único diretor, num determinado contexto, e são encerradas assim que a gestão termina. Há pouco planejamento ou políticas públicas que estabeleçam estratégias e meçam resultados, diz Patrícia Mota Guedes, gerente de Educação da Fundação Itaú Social. “Há a necessidade de ações mais sistêmicas nessa área, não é justo que as escolas fiquem sozinhas”, destaca.

Essa ausência de subsídios também afeta os pais. Não é difícil encontrar famílias cientes de sua influência sobre os filhos, mas são poucas as que se sentem realmente integradas à vida escolar. O mero repasse esporádico de informações por parte dos professores sobre o desempenho do aluno é insuficiente para diminuir a distância entre a rotina familiar e o processo de educação formal.

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Na opinião de Patrícia, as reuniões entre professores e pais, aliás, tem muito a melhorar. Um aspecto da cultura docente que ajuda a ilustrar a falta de habilidade em lidar com as famílias é o hábito de não chamar os pais de alunos por seus nomes, mas sim por “pai” ou “mãe”, uma pequena e comum falta de cortesia que não contribui com a desejada aproximação. “A qualificação no atendimento aos pais ajuda muito. A família tem de ser tratada como parceira, não como culpada.”

Outro costume escolar a ser combatido é o de chamar os pais apenas quando surgem problemas, prática que inevitavelmente vincula o ato de ir à escola com notícias necessariamente negativas. Algumas ações eficazes para mudar essa imagem são os convites para cerimônias de reconhecimento por boas notas, exposição de trabalhos, atividades comunitárias, festas e palestras com convidados especiais.

Coordenadores de pais

Uma tentativa de aprimorar essa relação foi adotada no início deste ano pela prefeitura de Santos, no litoral paulista. A rede municipal foi a segunda do país a investir no projeto Coordenadores de Pais, iniciativa que contrata pais de alunos para que atuem como articuladores de famílias, trabalhando para que todos aqueles que têm filhos matriculados em determinada escola tornem-se mais próximos do ambiente e da rotina escolar.

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Foram sete as mães de alunos selecionadas para levar adiante o experimento piloto na unidade Avelino da Paz Vieira (Vila Nova). “A participação da família é fundamental para construirmos uma educação inovadora. Em breve deveremos ampliar o projeto para mais 31 escolas do ensino fundamental”, destacou no lançamento da iniciativa a secretária de Educação, Venúzia Fernandes do Nascimento. A opção de buscar mães de alunos, e não profissionais da rede para executar o trabalho, seria uma forma de levar o olhar da comunidade para dentro do dia a dia escolar, de modo mais direto.

As sete mães de estudantes selecionadas foram contratadas pelos parceiros em regime CLT e receberão salário, vales transporte e refeição ou alimentação para o trabalho de 40 horas semanais.

A metodologia do projeto Coordenadores de Pais foi desenvolvida pela Fundação Itaú Social em parceria com a Comunitas, organização da sociedade civil com foco em investimentos sociais corporativos. Além de Santos, a iniciativa também é aplicada em 64 escolas nos estados da Bahia, Espírito Santo, Pará e Goiás, abrangendo ao todo cerca de 50 mil alunos.

Resultados

Apesar do pouco tempo de funcionamento, o projeto já colhe resultados. Diminuiu a comum dificuldade das equipes pedagógicas em conseguir falar com alunos que abandonam a escola, graças às redes de contato que só pais muito bem integrados à comunidade possuem. “Os pais engajados nesse trabalho conhecem muita gente. Se o telefone da família de um aluno não atende, eles vão atrás. Sempre há quem conheça, por exemplo, o vizinho do avô do menino que não aparece mais”, explica Elizabeth Gaspar, coordenadora do projeto em Santos.

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Ela conta que a formação dada aos pais contratados é bastante focada no desenvolvimento de empatia com os alunos e as famílias, o que não dispensa uma boa dose de planejamento. Os envolvidos se reúnem toda semana para alinhar ações, contar experiências e tratar da solução de situações específicas. Fortalecer o sentimento de pertença das famílias e estudantes é uma prioridade. “São muito comuns os casos em que a mãe de uma criança tem vergonha de ir até a escola falar com a diretora ou com a professora, mas se sente mais à vontade tratando dos mesmos assuntos com uma outra mãe, igual a ela. Os pais do programa acabam fazendo essa ponte”, diz.

As sete escolas municipais a contar com o programa foram escolhidas com base na vulnerabilidade social das comunidades onde estão. Confira a lista das escolas e suas respectivas mães responsáveis:

– Unidade Municipal de Educação Pedro Crescenti (mãe: Cláudia Regina Ribeiro dos Santos, 46 anos);

– Unidade Municipal de Educação Therezinha de Jesus Siqueira Pimentel (mãe: Tatiane Reis de Jesus, 30);

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– Unidade Municipal de Educação Professor Mário de Almeida Alcântara (mãe: Angélica Alves Ruas, 23);

– Unidade Municipal de Educação Martins Fontes (mãe: Elisângela de Araújo Santos, 42);

– Unidade Municipal de Educação Leonardo Nunes (mãe: Maria Aparecida Correia da Silva, 48);

– Unidade Municipal de Educação Avelino da Paz Vieira (Ingrid Alves de Castro Scanferla, 33);

– Unidade Municipal de Educação José Carlos de Azevedo Júnior (Cíntia Kelly dos Santos, 31).

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