João Kepler, do programa O Anjo Investidor e autor do livro Se vira, moleque!, fala sobre o empreendedorismo como estilo de vida
O empreendedorismo como estilo de vida pode ser estimulado ainda na infância| Foto: Bigstock

Sempre que um filho nasce, é natural que os pais queiram oferecer a ele muito mais do que tiveram: um ensino de qualidade, uma vida mais confortável, as melhores experiências, etc. Só que muitos esquecem que passar por perrengues faz parte da vida e que conseguir sair deles mostra o quão versáteis podemos ser diante dos problemas. Em entrevista ao Sempre Família, João Kepler, do programa O Anjo Investidor e autor do livro Se vira, moleque!, fala sobre o empreendedorismo como estilo de vida e dá dicas de como ensinar os filhos, desde cedo, a criarem as próprias oportunidades. Confira.

Na sua visão, a cultura do empreendedorismo está ganhando espaço no Brasil? Digo isso, porque no tempo dos nossos pais, por exemplo, dizer que ia trabalhar de casa era incompreensível, além do que não pegava nada bem para família.

Com toda certeza. Vivemos hoje a valorização do empreendedorismo como estilo de vida, ou seja, não sendo necessário ter efetivamente um negócio para adotar uma postura empreendedora. Com certeza você já ouviu a máxima de que os pais devem criar seus filhos “para o mundo”. Mas é fato. Afinal, boa parte das experiências que eles vão passar na vida, não estaremos presentes. A partir desta constatação o primeiro passo é ser realista e entender que não se trata de tentar evitar situações ou praticar a proteção extrema, mas de prepará-los para que eles saibam reagir e agir diante dos acontecimentos da vida.

Pais fortes e conscientes sabem que cedo ou tarde seus filhos vão sentir medo, insegurança, vão errar e por vezes até mesmo sofrer com algumas situações. E isso é normal! Faz parte da vida de qualquer pessoa, por mais que a ideia de vê-los sofrer antecipadamente seja dolorida, lembre-se de algumas fases que você mesmo já passou e o quanto aprendeu e cresceu com elas, por que com seu filho seria diferente?

E para enfrentar os desafios do mundo real que não são poucos e nem fáceis, os pais precisam desenvolver uma mentalidade focada nas experiências e responsabilidades. Na prática isso significa apoiá-los, mas sem superproteção e não deixar de lembrá-los que toda escolha e ação geram consequências, reações e muitas responsabilidades.

A pandemia (e com ela a necessidade de ficarmos distantes) ajudou nesse processo de fazer os mais incrédulos enxergarem que não é só do emprego formal que se sobrevive?

Nessa árdua e gratificante missão de educar filhos, para que eles venham a ser protagonistas da sua própria história, não são poucas as vezes em que os pais se veem diante de dúvidas sobre qual caminho seguir. O mundo vem mudando aceleradamente. Dentro desse processo de disrupção, nota-se que algumas famílias ainda estão perdidas e infelizmente sabe-se ainda que o empreendedorismo passa longe de ser estimulado dentro das residências.

Por isso, no meu livro Se vira moleque! eu mostro porque é interessante que os pais ensinem esses princípios dento do ambiente familiar, valorizando a criatividade, a curiosidade e a postura empreendedora diante da vida. Com uma boa orientação, os filhos podem se tornar autênticos empreendedores, fazendo suas próprias escolhas e calculando os prós e contras do que irão escolher.

No livro é possível aprender coisas como:

  • Ajudar seu filho a desenvolver competências e habilidades imprescindíveis para o futuro dele;
  • Aplicar a educação empreendedora como ferramenta de transformação;
  • Amar e ensinar seu filho a se virar;
  • Estudar se tornou um conceito muito mais amplo;
  • Os jovens podem encontrar propósito, iniciar a jornada e alcançar o sucesso;
  • Ensinar seu filho a pensar andando e praticar aprendendo.

Os pais devem abrir os olhos dos filhos para essas novas possibilidades? Como fazer isso? A partir de que idade eles podem ser orientados?

O fato é que a superação e aperfeiçoamento precisam ser constantes quando se trata da educação dos nossos filhos. Não são rótulos que precisam definir você e sim suas atitudes e respostas diante da vida. Seu filho espera encontrar em você um mentor, um amigo e não um ditador intransigente. Às vezes o que falta é você compreender que talvez seu filho não precise ser o melhor, mas ser feliz!

Seu filho precisa ser motivado a encontrar seus próprios caminhos e não desenvolver nele o medo do fracasso e da cobrança. Em meio a todos os desafios a que será exposto ao longo da vida, não tenha dúvida de que ele precisará ser forte e não um maratonista para fugir de tudo e de todos.

Fazer com que seu filho estude nas melhores escolas, universidades e que tenha acesso ao melhor que o dinheiro pode oferecer não significa que ele será um ser humano feliz e muito menos bem-sucedido em suas escolhas quando adulto. Os erros e frustrações fazem parte da vida e assim como os filhos os pais também precisam entender e aceitar isso!

A pergunta que não quer calar: como ensinar os filhos a construírem suas próprias oportunidades?

Para os pais que desejam treinar o cérebro e preparar seus filhos para a vida, elenquei cinco pontos para alertar sobre o que NÃO fazer no dia a dia:

  1. Sentir culpa em excesso

    O sentimento de culpa a longo prazo não faz bem para ninguém. E pode levar a uma longa lista de estratégias pouco saudáveis para os pais, por exemplo, ceder ao seu filho depois de dizer não. Pais fortes sabem que, embora a culpa seja desconfortável, ela é tolerável e precisar ser administrada. E sabe porquê? O poder não é das crianças e sim dos pais. As crianças que ditam o que a família vai comer no jantar, ou aquelas que orquestram como passar os fins de semana, têm muito poder. Uma coisa é ter direito de opinião, outra é ter uma voz ativa igual ou até mesmo superior à dos pais, não é saudável para as crianças.
  2. Vitimismo jamais

    Primeira constatação: existe um mundo além do seu filho. Pode ser tentador fazer sua vida girar em torno dele. Mas as crianças que pensam que são o centro do universo tendem a se tornarem egocêntricas. Cuidado com o excesso de proteção! Ser cortado do time de futebol ou reprovar uma aula não faz do seu filho uma vítima. Rejeição, fracasso e injustiça são parte da vida. Em vez de permitir que as crianças exagerem num momento de infelicidade, pais mentalmente fortes incentivam seus filhos a transformar suas lutas e “derrotas” em força para lutar pelo que desejam.
  3. O medo faz parte

    Ter medo em diferentes situações na vida é totalmente natural, mesmo quando já nos tornamos adultos. Manter seu filho dentro de uma bolha protetora pode poupá-lo de muita ansiedade. Mas é fato que manter as crianças seguras demais dificulta seu desenvolvimento. Lembre-se que super-herói só existe nas histórias. Altas expectativas nem sempre são saudáveis e esperar muito de crianças com certeza o tiro pode sair pela culatra. Pais mentalmente fortes reconhecem que seus filhos não vão se destacar em tudo que fazem.
  4. Disciplina x punição

    De forma bem objetiva punição é fazer com que as crianças sofram por seus erros. Disciplina é ensinar-lhes como fazer melhor no futuro. É claro que é preciso ter sempre em mente as responsabilidades e as consequências de cada ação. Na prática isso significa que as crianças devem ser apenas crianças e que os pais devem ensinar seus filhos a assumir responsabilidade por suas escolhas e atribuem-lhes deveres apropriados à idade. Como eu já mencionei, é claro que é difícil ver crianças lutando com alguns sentimentos, mas é necessário.
  5. Não existem atalhos, mas valores

    É preciso força mental para tolerar alguns atalhos que podem ser tentadores. Agendas lotadas combinadas com a pressão de se parecer com o “pai do ano” nas mídias sociais, fazem com que muitas pessoas percam de vista o que é realmente importante na vida, e principalmente, o que precisam ensinar aos seus filhos. Quais são os valores você vai passar para seu filho?

Você é pai de três. Consegue colocar em prática essas dicas em casa?

Boa parte dos meus fundamentos se dão em função da adoção do empreendedorismo como estilo de vida e no meu livro isso também fica evidente. Desde cedo, na minha casa, estimulamos os nossos três filhos a empreender para que possam alcançar suas próprias realizações pessoais e profissionais. Uma postura ou atitude empreendedora diz respeito à forma de ver a vida, os desafios, as oportunidades e de também fazer novas escolhas a cada novo dia.

Portanto, o livro não é um simples manual, afinal, não existem regras e receitas prontas quando se trata de educar os filhos. No entanto os pais irão encontrar exemplos práticos que resultaram de erros e acertos de um pai empreendedor que acredita e explica porque as crianças devem adotar desde cedo um estilo de vida empreendedor. Chamo de estilo de vida porque empreender não se limita a realizações de ações profissionais. Um verdadeiro empreendedor é ousado, consciente, curioso, disposto e convicto do seu papel na sociedade. E se seu filho (ainda) não apresenta tais características, não se preocupe. A boa notícia é que assim como quase tudo na vida, com boa orientação e direcionamento ele pode se tornar um autêntico empreendedor. Aliás, é justamente este o papel dos pais: indicar os melhores caminhos e dar condições reais para que os filhos façam suas próprias escolhas.

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