Uma rotina saudável inclui momentos de alta concentração alternados por tempos de descanso e estímulo à criatividade livre.
Uma rotina saudável inclui momentos de alta concentração alternados por tempos de descanso e estímulo à criatividade livre.| Foto: Bigstock

Tenho percebido uma queda significativa na atenção das crianças com quem trabalho, e, preciso dizer, dos adultos também. Os ruídos hoje são muitos, e isso faz com que as pessoas não atinjam muita qualidade nas atividades que realizam. Elas acabam se propondo a fazer muitas coisas, mas, em meio a inúmeras informações com que são bombardeadas, os objetivos e metas podem se perder.

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Mas, se nós, adultos, temos essa dificuldade, como ensinar nossos filhos? Existem algumas providências que podemos tomar no caminho para o aprimoramento da concentração.

Como exemplo, cito o número de brinquedos que as crianças têm hoje em dia. São tantos à disposição, que elas não têm tempo ou necessidade de criar histórias, elaborar um repertório imaginativo. O ideal seria promover uma seleção, de forma a ofertar menos opções e ter mais rotatividade ao longo dos dias de brincadeira. Uma possibilidade seria manter um número reduzido por três ou quatro dias, gerando envolvimento, criando enredos e contextualizações, com narrativas com começo, meio e fim, e depois trocá-los.

Outra sugestão que trago para aumentar a concentração e a qualidade das interações é olhar nos olhos ao falar com a criança, e ativar os ouvidos numa escuta ativa. Isso significa não dividir a atenção entre o interlocutor e o celular ou a televisão, por exemplo. Ao melhorar nossa performance nessa área, estamos ao mesmo tempo ensinando essa qualidade da conversa. Por sua vez, o toque físico é outra forma de ajudar a criança a permanecer no momento do diálogo, e ajuda a esperar.

Um exercício interessante a fazer com as crianças e adolescentes, também, é criar pesquisas juntos: a partir da escolha de um animal, por exemplo, obter informações a respeito de seu habitat, desenhá-lo e colorir, inventar histórias sobre ele, ou seja, trabalhar com maior profundidade o interesse da criança.

Gosto muito, ainda, dos marcadores visuais como forma de ajudar as crianças a internalizar a rotina. Podem ser desenhos na parede, algo simples, mas que reflita os combinados de casa e ajude a todos a manter a atenção naquilo que precisa ser feito. Se a criança não sabe o que vem a seguir, irá procurar atividades, e nem sempre são aquelas que desejamos.

Apesar de essa organização ser muito bem-vinda, o tédio também faz parte da aprendizagem! Isso significa que não é necessário prover um direcionamento o tempo todo, pois o ócio pode trazer descanso mental e a oportunidade de criar para os pequenos.

Resumindo, um equilíbrio é muito bem-vindo: orientar para uma rotina saudável, com momentos de alta concentração alternados por tempos de descanso e estímulo à criatividade livre.

Creio que, ao nos dedicarmos à melhoria das nossas próprias atividades e de nossos filhos, estaremos dando o presente da atenção - aquilo que nos mobiliza para o resto da vida a levar a cabo o que planejamos. Fazer boas escolhas e saber selecionar é uma arte, não é mesmo?

*Márcia Canova é psicóloga com abordagem sistêmica familiar, ludoterapeuta e psicopedagoga.

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