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Entusiasta do homeschooling, opositor ao pensamento de Paulo Freire e otimista com o governo Bolsonaro. Há um ano um educador com esse perfil dificilmente seria visto como bem-sucedido. Os últimos meses, contudo, têm dado provas contundentes de que o Brasil entrou num novo tempo e Carlos Nadalim já desponta como nome de destaque nos novos rumos da Educação que o país poderá tomar.

Nadalim é o criador de um método de alfabetização focado nos aspectos fônicos, o que vai na contramão das práticas hegemônicas na maioria das secretarias de educação. Os resultados que obteve, contudo, lhe renderam prestígio. O trabalho que desenvolve na Escola Mundo do Balão Mágico, em Londrina, chegou ao conhecimento dos parlamentares, em Brasília, e, numa disputa com iniciativas educacionais do Brasil todo, Nadalim venceu o prêmio Darcy Ribeiro, concedido anualmente pela Comissão de Educação da Câmara dos Deputados.

O reconhecimento oficial certamente o tornou mais famoso em seu meio, mas é o canal que mantém no YouTube desde 2013 o que tem lhe rendido a confiança de um número cada vez mais expressivo de famílias. No “Como educar seus filhos”, que também virou site, ele ministra cursos para pais que não querem delegar completamente a alfabetização de seus filhos à escola. O sucesso dos vídeos o motivou a publicar dois livros: “Linha, agulha e costura: canção, brincadeira e leitura” e “Maravilhamento”.

Para completar a onda positiva de Nadalim, recentemente ele viu o seu amigo Ricardo Vélez-Rodrigez ser escolhido como futuro ministro da Educação. Sobre esse e outros assuntos ele falou com o Sempre Família nesta entrevista exclusiva:

 

 

Carlos Nadalim recebendo o prêmio Darcy Ribeiro do deputado Diego Garcia (foto: reprodução/Facebook). Carlos Nadalim recebendo o prêmio Darcy Ribeiro do deputado federal Diego Garcia (foto: reprodução/Facebook).

– Qual foi o motivador da sua metodologia de ensino?

Fui professor de filosofia em universidades do norte do Paraná em 2011 e ficava surpreso com as dificuldades enfrentadas pela maioria dos alunos em ler e compreender textos simples, meros artigos de jornal. Mas as minhas tentativas de solucionar o problema ali não estavam produzindo os efeitos esperados. Nessa mesma época, minha mãe, que era a diretora da Escola Mundo do Balão Mágico precisou ir para Curitiba ajudar meu irmão que havia sofrido um acidente e precisei ficar na coordenação da escola no lugar dela. Eu tenho um mestrado em Educação e isso me habilitou para o cargo. A Mundo do Balão Mágico é uma pequena escola localizada na Gleba Lindóia, bairro operário da zona leste de Londrina, no Paraná, e foi criada pela minha mãe por causa do meu irmão. Ele sofria de uma doença na pele que trouxe algumas consequências para sua educação quando pequeno. Eu e minha irmã também estudamos ali e foi nesse lugar que tantos anos depois a verdade clareou meus olhos.

Primeiro vi que aquilo de que fui testemunha em minha prática docente tinha nome: analfabetismo funcional, mal que produz reflexos sociais de gravidade ímpar, no campo do desemprego e da criminalidade, e que afeta uma parte relevante do público universitário brasileiro. Em segundo lugar, me dei conta de que as causas do analfabetismo funcional tem raízes na tenra infância, durante o processo de pré-alfabetização e alfabetização. Os dados da Avaliação Nacional da Alfabetização de 2016 sobre o desempenho em leitura dos alunos do 3º ano do Ensino Fundamental de escolas públicas, por exemplo, são preocupantes. O índice de alunos com conhecimento inadequado para a idade é de 55%. Tudo isso foi um grande motivador para que eu construísse uma metodologia de ensino que fosse eficaz na alfabetização.

Como disse, eu percebi que o problema do analfabetismo funcional está na alfabetização das nossas crianças. E o que mais se vê no período da alfabetização no Brasil, é uma preocupação com o motivo pelo qual se aprende a ler. Mas não é essa a questão. Hoje há um desprezo da técnica na educação. Há poucos cursos de magistério no país, por exemplo, que é onde se aprende o procedimento técnico para o ensino. Paulo Freire chama isso de tecnicismo e diz que ele desvincula o educando de seu contexto. Ele faz uma defesa ideológica do fim da alfabetização, porque ele quer que a criança tome consciência de classe. Para ele você precisa ensinar a criança a linguagem porque ela é dominada pela classe dominante que impõe seu discurso. Mas a alfabetização não é isso. Alfabetização é uma técnica para ela decodificar e reconhecer palavras e é isso o que eu quero: que a criança leia para compreender textos. Eu entendo que o foco da alfabetização é levar a criança à compreensão do texto, porque a interpretação é um passo além. Essa preocupação de que a criança retome uma consciência de classe no processo de alfabetização, não é a minha preocupação.  O que eu quero é que ela domine técnicas de codificação e decodificação. O que ela fará com isso depois é um problema da comunidade.

 

– Em seu blog o senhor afirma que o letramento é o grande vilão da alfabetização no Brasil. Lá é explicado que essa abordagem sobrevaloriza o papel das funções sociais da linguagem no processo de aprendizagem da leitura e da escrita. Por que isso é prejudicial para a alfabetização e como fazer para que seus alunos aprendam a ler tomando distância desse conceito?

Em meu discurso durante o recebimento do prêmio Darcy Ribeiro eu falei sobre essa questão. Resumindo de uma maneira simples, o letramento é um conceito estritamente ideológico e político da arte de alfabetizar. Ele diz que o aprendizado da leitura é considerado um ato espontâneo, tão natural quanto aprender a falar, dispensando qualquer instrução explícita sobre o funcionamento do sistema alfabético de escrita e desconsiderando a importância de habilidades cognitivas fundamentais para a aquisição da leitura e da escrita.

Nessa abordagem, a criança deve aprender a ler lendo, levantando sozinha hipóteses sobre a escrita, pela simples interação com textos “reais”. Mas o simples contato com textos escritos não permite às crianças construir hipóteses. Essa ideia é muito perigosa e já foi amplamente refutada por evidências científicas: as crianças, principalmente aquelas de meios mais desfavorecidos, precisam de um ensino explícito da decodificação.

Além disso, no letramento, o sentido exato do texto, conforme a intenção do autor, não é apenas secundário, mas praticamente sacrificado no altar do subjetivismo: o texto é utilizado como pretexto para a atuação político-ideológica. A inadequação e a falência dessa abordagem são observadas nos resultados do PISA, em que o Brasil ocupa os últimos lugares em leitura. Esse fracasso educacional na formação básica se reflete na produção intelectual e acadêmica do ensino superior, em que as pontuações no ENADE demonstram a calamidade intelectual e cultural que atualmente acomete nossa sociedade.

 

– O senhor tem trabalhado essa metodologia na escola Mundo do Balão Mágico desde 2011. Quais resultados já obteve com os alunos?

Na Mundo do Balão Mágico, a pré-alfabetização e a alfabetização seguem as minhas orientações. Desenvolvi lá um programa de ginástica, porque atividades físicas auxiliam no aprendizado e implantei um coral para conectar a música à fluência da leitura, por exemplo. As falas do Olavo de Carvalho sobre abordagem fônica foram fundamentais para o projeto que eu queria implantar na escola. Estudei sobre o tema e comecei a aplicar lá. Em poucas semanas as crianças já mostravam mudanças consideráveis na leitura, lendo com fluência, memorizando e recitando texto clássicos da língua portuguesa. Confesso que eu não sabia da capacidade que elas tinham. Eu cheguei a ensinar latim para crianças de oito anos! Parece loucura, mas tudo tem uma justificativa. Porque eu sei que por meio dos casos, o latim desperta no cérebro um aprimoramento da compreensão sintática e a fluência da leitura. Além disso, por meio do meu método eu consigo fazer com que as crianças sejam alfabetizadas no fim do 1º ano, para que nos anos seguintes do Ensino Fundamental I (do 2º ao 5º ano), elas treinem a fluência. Dessa maneira ela saem do 5 º ano lendo 150 palavras por minuto. E isso é ótimo, porque a referência que temos de um bom leitor é daquela pessoa que lê o maior número de palavras por minuto. Esse critério é fundamental para o treino de fluência de leitura. Não é à toa que as qualidades de um bom ouvinte são praticamente as mesmas de um bom leitor porque a escuta está para a leitura assim como a fala está para a escrita.

 

– O senhor é um apoiador do homeschooling. Como vê o crescimento do número de pais adeptos à prática?

É preciso que o Estado brasileiro assuma o seu papel subsidiário na Educação, respeitando o protagonismo das famílias na educação dos filhos e facilitando a livre iniciativa da sociedade no âmbito educacional e escolar. Eu apoio o homeschooling e contribuo com a prática porque a partir da minha experiência escolar, com a Mundo do Balão Mágico, que fica em uma comunidade carente de Londrina, e graças ao alcance do site “Como educar seus filhos”, tenho visto que meus métodos de pré-alfabetização e alfabetização ajudam não só professores e pedagogos, como também pais. O número de pais que estão decidindo educar e instruir seus filhos em casa, de famílias descontentes com a letargia de um Estado que se recusa a ouvir o clamor da ciência e a necessidade da população é grande. Além disso, os pais que estão em casa e olham para um programa como o meu, que se parece em muito com a receita de bolo e enxergam do outro lado que a escola de seus filhos não tem capacidade de ensiná-lo a ler e escrever, veem que o que apresento é mais eficaz.

 

– Como o senhor avalia o rumo que o presidente eleito Jair Bolsonaro quer dar à educação no Brasil com a indicação do ministro Ricardo Vélez-Rodriguez?

O Ricardo sabe o quanto é grave o problema da alfabetização no Brasil. Eu tive a oportunidade de conhece-lo em Londrina e expus a ele o problema que enfrentamos nessa área. Olavo de Carvalho já disse várias vezes, e eu concordo, diante daquilo que posso comprovar com meu método, que é preciso voltar ao método fônico de pré-alfabetização e alfabetização, e o Ricardo sabe disso. Então, se ele conseguir trabalhar essa questão, só isso já fará dele um herói. Por isso eu acredito que os próximos anos serão bem esperançosos para a educação do nosso país.

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