Pais com um nível mais alto de conhecimento ligado à leitura têm mais propensão a mostrar aos seus filhos padrões interessantes da linguagem oral e escrita.
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Os pais são, frequentemente, os primeiros professores de alfabetização de seus filhos.  Eles supervisionam as primeiras vezes em que os filhos escrevem seus nomes em seus desenhos e leem livros de contos para eles. Ainda assim, não há muitas pesquisas que se debruçam sobre o que exatamente os pais fazem ao auxiliar os filhos a ler.

A nossa pesquisa examinou o conhecimento ligado à leitura – o que não é o mesmo que ser um bom leitor. Pais com um nível mais alto de conhecimento ligado à leitura têm mais propensão a mostrar aos seus filhos padrões interessantes da linguagem oral e escrita. Eles também tendem a incentivar mais a leitura dos filhos, oferecendo comentário de apoio e dicas úteis. Temos motivos para acreditar que, com o tempo, esses comportamentos aprimoram o desenvolvimento das habilidades de leitura e escrita das crianças.

Avaliando as habilidades dos pais

O conhecimento ligado à leitura compreende pelo menos três habilidades importantes, a saber: a consciência fonológica (a capacidade de isolar e manipular unidades de som, criando rimas ou conseguindo dizer quantos sons diferentes existem em uma palavra), o conhecimento dos padrões de sílabas escritas e a habilidade de identificar grafias regulares e irregulares de palavras.

Medimos o conhecimento ligado à leitura em um estudo que recrutou uma amostra de 70 pais em escolas da região de Québec. Um dos critérios para a participação é que o inglês fosse a língua mais falada em casa. Os participantes tinham um bom nível de escolaridade e uma renda média a alta. O que pedimos a eles foi o seguinte:

  1. Contar o número de unidades de som na fala (a palavra “rancho” tem quatro sons: r/an/ch/o).
  2. Determinar qual padrão silábico aparecia em quatro palavras (por exemplo, a palavra “na” representa uma sílaba átona, enquanto a palavra “má” representa uma sílaba tônica).
  3. Distinguir entre grafias regulares e irregulares.

Descobrimos que os pais que têm melhores habilidades nessas três áreas elogiavam mais o progresso de seus filhos. Eles dizem coisas como: “Ótima pronúncia!” Esses pais também explicam melhor as conexões entre uma letra e um som ao ajudar seus filhos a ler. Ou seja, quando a criança deveria ler uma palavra como “pouso”, o pai dizia algo como: “Esse S soa como o S de ‘casa’”.

Jogos de palavras e não são apenas jogos

Quando os pais propõem brincar com rimas, isso constrói a consciência fonológica da criança. Os pais podem também brincar com aliterações, chamando a atenção para os primeiros sons de cada palavra em sentença divertidas como “o rato roeu a roupa do rei de Roma”.

A consciência fonológica lida apenas com os sons. Por isso, este também é um exemplo de aliteração: “Chegou o xale e a xícara do chato do Chico”. Isolar os sons ajuda as crianças a, mais tarde, relacionar os sons às letras.

Considerando as palavras “xale” e “chato”, as crianças devem ser capazes de primeiro associar a letra X e o dígrafo CH ao som /x/ e depois unir esse som aos outros sons para ler as palavras. Para escrever essas palavras, por exemplo, as crianças devem isolar cada um dos seus sons (x/a/l/e e ch/a/t/o) e associá-los as letras e dígrafos correspondentes.

Claramente, ajudar as crianças a ler vai além de simplesmente corrigir erros. Em vez disso, os pais podem começar tendo interesse pela beleza – e pela ocasional bizarrice – da língua, e então passar isso a seus filhos.

*Professoras do Departamento de Educação da Universidade de Concórdia, em Montreal.

©2019 The Conversation. Publicado com permissão. Original em inglês.

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