A depressão gestacional pode acelerar o trabalho de parto, provocar baixo peso do bebê e causar dificuldades na amamentação.| Foto: Ashton Mullins/Unsplash
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Depressão pós-parto é algo preocupante e um assunto sobre o qual muitas gestantes gostam de se informar. Só que durante a gravidez também é possível que o quadro depressivo se instale e o problema é que dificilmente o diagnóstico é feito. Por ser uma fase normalmente muito esperada e que envolve muita expectativa, em alguns casos é difícil lidar com tantas alterações.

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“Era uma tristeza constante misturada com a culpa por não estar feliz o tempo todo”, revela Silvia, que preferiu não se identificar, ao falar de meses conturbados que viveu durante a gravidez do primeiro filho. Tempos depois ela se deu conta que passou por um quadro depressivo, mas não sabia.

“O diagnóstico mesmo nunca veio, mas hoje, que estou bem, eu penso em várias coisas que vivi naquela época e não tenho dúvidas de que foi depressão gestacional”, admite a pedagoga. Silvia fez terapia, identificou os sinais e concluiu que o que passou não era normal. “Especialmente porque a segunda gestação foi bem diferente”, diz ela.

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Sinais de alerta

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Fernanda Schier de Fraga, ginecologista e obstetra, professora da Pontifícia Universidade Católica no Paraná (PUCPR) e preceptora da residência do Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná (UFPR), explica que a gestação é um período de muita vulnerabilidade, com constantes mudanças hormonais e alterações no cérebro.

Sintomas como desânimo, apatia e falta de alegria ou ansiedade com as consultas do pré-natal podem ser sinais preocupantes, de acordo com a médica. “Vai diminuir o cuidado. É aquela mãe que não tem alegria nas consultas, não se anima a fazer o ultrassom, o enxoval ou nem quer saber do nome da criança”, esclarece. Se esses sintomas permanecerem por mais de duas semanas, segundo Fernanda, a orientação é buscar ajuda.

O problema é que o contato maior e mais constante da gestante, durante a gravidez, é com o obstetra e não com psicólogos ou psiquiatras. Isso faz com que o diagnóstico não seja algo de fácil percepção se o médico responsável não tiver essa sensibilidade. Por isso, Fernanda defende que esse profissional fique atento para encaminhar a mãe a equipes especializadas ao menor sinal de depressão.

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Sofrimento em silêncio

A psicóloga Andréia Moessa de Souza Coelho alerta para importância de incluir, também, um exame de saúde mental da mulher durante a gestação. “Quanto mais cedo, melhor. Porque se a mulher já não está bem lá no começo da gestação e não consegue falar disso, a situação só vai aumentando e pode virar um quadro delicado”, afirma.

Andréia acredita que hoje, mais do que há 20 anos, por exemplo, as grávidas estão mais propensas à depressão porque cada vez mais a maternidade é idealizada. “Colocamos uma responsabilidade sobre essa mulher pela maternidade perfeita, que tem que passar por uma gestação X, um tipo de parto Y, um tipo de amamentação. Parece que não tem escolha, é a imposição de um ideal”, analisa.

Essa sobrecarga emocional, se não tratada, é cansativa para a mãe e pode ser prejudicial ao bebê. “Pode desencadear trabalho de parto prematuro, baixo peso ao nascer, dificuldade de amamentação, abuso de álcool e drogas durante a gestação”, destaca Fernanda. E é por isso que a depressão precisa ser diagnosticada e tratada.

Planejamento concepcional

A médica diz, ainda, que não se sabe se há relação entre quadro depressivo anterior e a depressão gestacional, mas as oscilações da gravidez podem provocar uma recidiva. “Acontece uma coisa importante que é a oscilação hormonal do estrogênio e da progesterona. Esses hormônios são mediadores do comportamento feminino”, afirma.

Por isso quem já teve depressão e pretende engravidar precisa fazer um planejamento concepcional, com a possibilidade, inclusive de utilizar medicamentos durante a gestação e até na amamentação. “Tem muita crença de que os medicamentos fazem mal para o bebê só que os estudos mostram que uma depressão ou uma ansiedade não tratada são muito piores do que o mal que o remédio poderia fazer”, diz Fernanda. “A mãe estar bem é muito mais importante”, conclui.