Os 1.019 homens ouvidos consideram que o isolamento social teve impacto positivo no papel que desempenham em casa
Adriano e os filhos Maria Luiza e Gabriel: segundo o pai, ele e a mulher sentiram falta desse tempo maior com as crianças| Foto: Arquivo pessoal/Adriano Melniski

Uma pesquisa da Fundação Canadense de Saúde do Homem (CMHF) resultou em dados interessantes: 40% dos 1.019 pais que foram ouvidos consideram que as restrições da Covid-19 tiveram impacto positivo no papel que desempenham em casa e 60% deles afirmaram se sentir mais próximos dos filhos desde que o isolamento se tornou necessário. Para os autores, é possível identificar mudanças (para melhor) na dinâmica das famílias por conta da quarentena.

Os números vão além. Quase dois terços dos homens entrevistados garantiram estar oferecendo mais atenção às crianças, 52% alegaram estar convencidos da importância que têm na composição familiar e 49% se comprometeram a se envolver mais com os filhos no futuro. “Se as restrições da Covid aceleram a participação dos pais na criação dos filhos, isso pode ser um benefício duradouro de uma trágica crise na saúde pública”, aponta Larry Goldenberg, presidente-fundador da CMHF, no material distribuído à imprensa.

Um desdobramento do estudo também indica que o equilíbrio entre a vida pessoal e profissional está melhorando no decorrer da pandemia. “Sabemos que a presença ativa dos pais na vida dos filhos tem um efeito positivo no bem-estar físico e mental dessas crianças, o que reduz a frequência de seus comportamentos negativos”, observa David Kuhl, professor de Medicina e um dos membros da equipe.

Sentimento comum

Acostumado a passar o dia fora de casa (entre escritório, visita a clientes e participação em audiências), o advogado Elizeu Artigas de Faria Junior conta que o home office trouxe mesmo mais cumplicidade à relação dele com o filho Pedro, de 2 anos e 11 meses. “O grande apego que ele tinha mais com a mãe acabou diminuindo um pouco. Quando a minha esposa chama a atenção dele por algum motivo, ele logo diz 'Quero meu paizinho'”, lembra.

Segundo Junior, a fase também tem servido para refletir sobre a postura exercida enquanto pai. “Percebi que muitas vezes, com o estresse de ter de lidar com o trabalho remoto, as tarefas da casa e dar atenção a ele, acabo sendo muito exigente. Tenho que raciocinar muito e lembrar que ele vive toda essa loucura sendo apenas uma criança com menos de 3 anos. Apesar disso, nos conectamos mais e cada dia nos tornamos melhores amigos”, afirma.

O advogado Elizeu Junior e o filho Pedro. Foto: Acervo pessoal
O advogado Elizeu Junior e o filho Pedro. Foto: Acervo pessoal

A convivência em tempo integral com os filhos também tem feito o leiloeiro, Adriano Melniski, traçar novos planos para o dia a dia da família. “Já falei para a minha esposa que estamos mal-acostumados e que vamos sentir falta deles quando as aulas presenciais voltarem”, justifica.

No caso dele – que já trabalhava de casa e acompanhava de perto a evolução de Gabriel, de 10 anos, e Maria Luiza, de 8 – a quarentena tem sido de descobertas. “Eu vi o quanto a minha filha é amorosa, um lado que eu não conhecia. Ela está sempre trazendo bilhetinhos e cartinhas que escreve para a gente. Além disso, percebi o quanto eles são inteligentes e prestativos. Toda vez que vou consertar alguma coisa ou fazer um serviço em casa, eles querem ajudar”, descreve.

A rotina também passou a incluir brincadeiras ao ar livre e tempo para longas conversas com as crianças – algo que o pai pretende levar para o pós-pandemia. “O desejo é manter esse contato pelo menos no período em que eles não estiverem na escola. Com certeza é algo que nos aproximou e que vamos continuar fazendo”, garante Melniski.

Adriano e os filhos Maria Luiza e Gabriel. Foto: acervo da família
Adriano e os filhos Maria Luiza e Gabriel. Foto: acervo da família
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