Alguns transtornos mentais, apesar de surgirem na infância, podem ser diagnosticados somente na vida adulta.
Alguns transtornos mentais, apesar de surgirem na infância, podem ser diagnosticados somente na vida adulta.| Foto: Unsplash

Falta de empatia, rigidez no pensamento, dificuldade para entender gírias, desatenção, impulsividade, fala excessiva, agitação ou sensibilidade intensa a cheiros, sons, gostos e texturas podem não ser meras características de alguém, mas sinais de algum transtorno mental. Frequentemente associados a sofrimento ou incapacidade, os transtornos afetam inúmeras atividades, sejam elas sociais, profissionais ou acadêmicas.

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Estresse, ansiedade, depressão, transtornos de personalidade, transtorno obsessivo compulsivo e transtornos alimentares são os mais comuns de serem diagnosticados em adultos, explica a psicóloga Andressa Roveda. Porém, ela, que é mestre em neuropsicologia e em deficiências cognitivas, alerta que alguns transtornos, como o Transtorno do Espectro autista (TEA) e o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), apesar de surgirem na infância por serem transtornos do neurodesenvolvimento, podem ser diagnosticados somente na vida adulta.

“Os sinais e sintomas estão mais presentes e visíveis no comportamento das crianças, mas não somem na fase adulta”, diz a especialista, ao explicar que os adultos podem desenvolver mecanismos para superá-los em decorrência dos desafios enfrentados durante seu crescimento.

Andressa conta, por exemplo, que alguns pais de crianças com TEA acabam percebendo em si características semelhantes e por isso buscam um profissional para investigar. “Outros percebem algo diferente em si, mas não conseguem identificar o que é, e quando buscam apoio para outras queixas são diagnosticados com algum transtorno”, completa.

Mudanças de comportamento contribuem para o diagnóstico tardio

A falta de informação, profissionais especializados e de marcadores biológicos, assim como o receio de julgamento e normalização de alguns comportamentos familiares, dificultam o diagnóstico de muitos transtornos mentais.

Os profissionais precisam analisar o histórico dos sintomas, assim como as comorbidades do paciente, já que diferentes transtornos podem apresentar um quadro sintomático semelhante. Além disso, cada pessoa pode apresentar de maneira diferente os sintomas relativos aos transtornos, como no TDAH ou TEA, principalmente na fase adulta, quando as características podem ser menos acentuadas, se comparadas na fase da infância, conta a psicóloga Glauce Karine Conti de Freitas Elage, que atua com ênfase em neuropsicologia.

Em relação ao transtorno do espectro autista, os sintomas dos adultos podem variar conforme a gravidade e as características de personalidade, assim como é nas crianças. “Fica evidente, no grau leve, comprometimentos nas áreas da interação e comunicação social, percebidas quando há relativo desconforto ou estranheza na hora de receber e dar afeto, de falar sobre os próprios sentimentos ou compreender os dos outros”, ilustra Glauce.

Sendo assim, alguns adultos com TEA, por preferirem conversar sobre assuntos muito específicos, não conseguem perceber sinais sutis de que os colegas não estão mais interessados no tema. “Essa característica, assim como tantas outras, tende a fazer com que as pessoas que apresentam o espectro do autismo, a preferirem trabalhar sozinhas e ter maior dificuldade a fazer trabalhos fora do planejado ou da rotina”, exemplifica ela, que é doutora em distúrbios do desenvolvimento.

Contudo, nos casos de TDAH, ainda que muitos possam ser os sinais de alerta, a tríade de sintomas de desatenção, hiperatividade e impulsividade se mantêm, independentemente da idade, só que com manifestações diferentes, enfatiza a especialista. “A hiperatividade, por exemplo, que nas crianças e adolescentes é manifestada com a agitação psicomotora, nos adultos é internalizada, sendo comum queixas de mudanças frequentes de pensamentos e dificuldades para estruturar um planejamento e concluir uma tarefa, sem antes ser interferido por outros pensamentos ou ideias”, descreve ela.

Por isso, Andressa, que também é mestranda em neurociências, destaca a necessidade de se estar sempre atento ao próprio comportamento, em qualquer fase do desenvolvimento humano. “Ao menor sinal de sintoma ou desconfiança de mudança no comportamento, é importante buscar um especialista para avaliação”, orienta.

E se diagnosticado na fase adulta, ainda precisa de tratamento?

Embora seja muito importante o diagnóstico precoce para um melhor tratamento dos transtornos de neurodesenvolvimento, as psicólogas destacam que, mesmo tardio, o acompanhamento profissional pode trazer benefícios significativos para o adulto, “já que há tratamentos farmacológicos e psicoterapêuticos que são eficazes e, além de atenuarem os sintomas, melhoram a qualidade de vida do paciente”, explica Glauce.

O especialista, portanto, analisará a forma do tratamento multidisciplinar – como psicoterapia, fonoaudiologia, fisioterapia, terapia ocupacional, psicopedagogia, equinoterapia e musicoterapia – conforme os sintomas apresentados pelo paciente.

E, independentemente do transtorno mental do qual a pessoa adulta seja diagnosticada, é fundamental o autoconhecimento e desenvolvimento de autonomia, já que é comum a dificuldade de manter relações sociais, destaca Andressa. Aliás, o apoio familiar, em todos os transtornos de ordem psiquiátrica, é de suma importância, já que os pacientes facilmente são acometidos pela baixa autoestima e ansiedade, devido a insegurança nas relações interpessoais, finaliza Glauce.

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