Relatos de missões espaciais reais ou simuladas apontam que algumas pessoas podem achar o autoisolamento mais difícil do que outras
| Foto: Kinga Cichewicz/Unsplash

Para algumas pessoas, a ideia de autoisolar-se em quarentena pode parecer um sonho que se tornou realidade. Para outras, a ideia de excluir-se do mundo exterior, a sós ou com apenas alguns familiares próximos, as enche de pavor – pergunte a qualquer pai que já teve a experiência de ter que entreter dois filhos pequenos dentro de casa em uma tarde chuvosa.

Quando as pessoas ficam presas em ambientes fechados por longos períodos, elas podem reportar o que chamamos de “febre da cabine” ou sentir que estão surtando. Relatos de missões espaciais reais ou simuladas ou de pessoas que vivem em espaços confinados, como aquelas que passam o inverno em estações de pesquisa nas zonas polares, também sugerem que algumas pessoas podem achar o autoisolamento mais difícil do que outras. No entanto, existem algumas medidas simples que você pode tomar para ajudá-lo a se adaptar.

1. Fortaleça a sua imunidade

Pesquisas sobre os efeitos da solidão sugerem que quando as pessoas não têm conexões sociais é mais provável que sofram de problemas de saúde física. Por exemplo, idosos que não podem sair de casa devido a mobilidade reduzida são mais suscetíveis a doenças, como problemas cardíacos. E estudos descobriram que as equipes de pesquisa que trabalham em zonas polares podem sofrer ter seu sistema imunológico fragilizado.

Por isso, durante a quarentena, pode ser uma boa ideia tentar melhorar sua imunidade. Exercitar-se e ingerir vitaminas suficientes pode ajudar nisso – embora não cure a Covid-19, como algumas notícias falsas alegam. Os psicólogos também acreditam que ouvir estilos musicais que coloquem você para cima ou assistir a um filme também pode fortalecer sua função imunológica.

2. Estruture o seu dia

Para algumas pessoas, o autoisolamento pode também levar a alguns problemas leves de saúde mental. Sabemos através da experiência de pessoas que passaram o inverno em uma estação de pesquisa polar que o isolamento e o confinamento a longo prazo estão ligados a problemas psicológicos. Um estudo constatou que nas equipes que passaram todo o inverno isoladas, mais de 60% das pessoas relataram se sentir deprimidas ou ansiosas e quase 50% se sentiram mais irritadas e tiveram problemas de memória, sono e concentração.

O autoisolamento para conter o coronavírus não será tão extremo quanto o de quem esteve exposto ao inverno no Ártico e, portanto, o impacto no bem-estar mental deve ser menor. Mas algumas pessoas que estão em quarentena podem ter dificuldades com o sono e sentimentos de inquietação, tristeza e desânimo.

Para combater esses problemas, é importante manter uma estrutura para o seu dia. Ter um horário definido para as refeições e para dormir pode ajudar você a permanecer no caminho certo. Planejar atividades e estabelecer metas também pode ajudá-lo a manter-se motivado e driblar sentimentos de desânimo.

3. Mantenha contato social

Uma razão óbvia pela qual as pessoas isoladas podem se sentir deprimidas ou ansiosas é que elas não podem contar com o apoio de amigos e familiares para ajudá-las a lidar com a dificuldade da situação e compartilhar suas preocupações. A pesquisa também sugere que, sem esse apoio social, as pessoas podem recorrer a estratégias de enfrentamento menos positivas, como beber mais álcool.

Portanto, durante a quarentena, você deve permanecer em contato com seu círculo de amigos e familiares. Não é difícil: telefone para um amigo para conversar, envie um email a alguém ou participe de uma conversa pelas mídias sociais. Está demonstrado que estender a mão a um amigo é melhor para a sua saúde mental do que tomar uma ou duas taças de vinho em uma tentativa de bloquear suas preocupações.

4. Evite conflitos

Em alguns casos, estaremos isolados com um pequeno grupo de pessoas, sejam familiares ou amigos. Isso pode limitar a solidão, mas pode apresentar outros desafios, como a possibilidade de discussões. Mesmo aqueles que amamos podem nos dar nos nervos quando ficamos presos com eles por tempo suficiente.

O cosmonauta Valentine Lebedev, que passou 211 dias a bordo da estação espacial Mir, relatou que cerca de 30% de seu tempo no espaço era gasto lidando com conflitos entre a tripulação. Aumentos nas tensões entre o grupo foram observados também nas estações de pesquisa polares. Portanto, é uma boa ideia tentar reduzir os conflitos interpessoais.

Com o objetivo de reduzir conflitos durante missões espaciais, os pesquisadores perceberam que exercitar-se pode contrapesar os efeitos negativos do confinamento. De maneira mais geral, 20 minutos de exercício por dia também podem ajudar a melhorar o seu humor através da liberação de endorfinas, além de reduzir a sensação de tensão. Portanto, talvez seja hora de procurar um canal do YouTube com instruções de pessoas qualificadas ou fazer o download de um novo aplicativo de exercícios.

Outra estratégia para reduzir o conflito é afastar-se um do outro. Se você começar a sentir que uma discussão pode se agravar, é uma boa ideia fazer um intervalo de pelo menos 15 minutos. Sentem-se em salas separadas e deixem todos se acalmarem. Normalmente, após 15 minutos, o motivo da briga não parece tão importante.

Finalmente, é importante lembrar que, se você sentir que a quarentena está causando um impacto muito negativo na sua saúde mental, você deve procurar aconselhamento profissional.

*Professora de Psicologia na University of Central Lancashire, no Reino Unido.

©2020 The Conversation. Publicado com permissão. Original em inglês.

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