A solidão na velhice se torna um problema social, porque sabemos de sua existência, mas não podermos prevê-la com exatidão.
A solidão na velhice se torna um problema social, porque sabemos de sua existência, mas não podermos prevê-la com exatidão.| Foto: Pixpoetry/Unsplash

Pensemos que envelhecer acompanhado de uma solidão indesejada tenha a ver com as forças centrífugas que a sociedade exerce sobre os idosos, excluindo-os cada vez mais.

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Isso nos levaria a crer que envelhecer, ainda mais sozinho, com a falta de movimento que se gera, supõe chegar a uma fase quase monótona e frustrante da vida. Seria algo distante de qualquer paradigma de dignidade e beleza que envolva viver mais anos em um indivíduo envelhecendo, consentido e deliberado pela própria pessoa, a partir de sua liberdade de escolha.

O que significa envelhecer?

Os movimentos de um idoso em uma solidão inesperada, em qualquer direção, criam responsabilidades individuais ao não conceber que estamos diante de um modelo social que se “desloca” ao atingir essa fase, além do estigma social da solidão.

Considerando que os sentimentos que nos despertam, como indesejados, são os de um parceiro perverso, ainda não concebemos o envelhecimento como uma oportunidade que tem a ver com a vida e não com uma fase limitadora.

Isso transforma a solidão indesejada em um problema social, pela provocação de sabermos de sua possibilidade, mas não podermos prevê-la com exatidão em etapas anteriores da vida.

Viva bem, ao invés de viver muito

Talvez valha a reflexão de que não se trata de viver muito, mas de viver bem, e modificar as forças que exercem ações centrífugas que geram solidão nesta fase da vida.

A inquietação diante da velhice solitária pode nos levar a pensar no vazio, na perda da consciência. Nenhum de nós está preparado para a dificuldade que nos torna vulneráveis, quando não somos capazes de responder ao problema por conta própria. Quem se prepara para viver a velhice em uma situação de solidão indesejada? Quem se imagina mais velho e solitário?

Esse medo já estava refletido em Rei Lear de William Shakespeare, onde o protagonista, que sempre contou com sua própria força para enfrentar a vida em ilusória invulnerabilidade ao longo do tempo, vê com terror a falta de controle e a necessidade dos outros nesta fase.

E se não tivermos ninguém?

Quando as redes primárias não amortecem esse ajuste e não há mais redes de apoio, surge a solidão. Quando uma pessoa isolada observa e contempla a situação que está vivenciando, é difícil para ela discernir se ficou mais isolada, mais inadequada para se relacionar ou se os apoios que conquistou são significativos para esta fase.

Transformar a realidade da solidão indesejada faz parte do envelhecimento significativo e do desenvolvimento da sociedade. Como sabemos pouco sobre o que é excepcional e o que não é nesta fase, quando o nosso conhecimento em qualquer área muda a cada momento, parece prudente ser simplesmente específico ao abordar as diferentes formas de envelhecimento e ao que dá sentido ao envelhecimento com dignidade.

Observar a solidão indesejada sob a ótica da generalidade não fornece respostas sociais substanciais, mas medidas que subjugam a dignidade, porque nos equalizam. E é a dignidade que torna os indivíduos resistentes a tudo em qualquer estágio.

O problema da solidão indesejada na velhice é que as histórias conhecidas são poucas e longe de serem visíveis para nos fazer ver a variedade de partidas em nossas vidas e o momento de chegada na solidão. São, portanto, poucas histórias para nos fazer duvidar das responsabilidades do modelo de sociedade em que vivemos e poder ver que ele exclui a maioria e é silenciado pelo estigma social que o estar sozinho na velhice implica.

*Rosa Gómez Trenado, professora de Serviço Social da Universidade Complutense de Madrid.
©2021 The Conversation. Publicado com permissão. Original em espanhol.

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