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Ao longo da vida, o ser humano experimenta uma sucessão de ganhos e de perdas. Ganha conhecimento, perde a timidez, ganha amigos, perde um emprego, ganha dinheiro, perde alguém que ama. Experiências, virtudes, bens materiais. Todos nós vivemos as alegrias dessas conquistas e também as tristezas de alguns fracassos. Mas tem uma coisa que não se pode ganhar e, muito menos, perder. Algo em cada um de nós que não pode ser dado e nem retirado por absolutamente ninguém: a dignidade de cada pessoa humana.

E essa dignidade tem muito a ver com a singularidade de cada um. Está em nossa essência. Cada pessoa humana é única e irrepetível, no sentido mais radical dos termos. Não existe ninguém igual ao outro. Nascemos com um conjunto de características e capacidades e, com elas, agimos no mundo de uma maneira muito específica. Por isso, a contribuição de uma pessoa é sempre única e seu valor, infinito.

Segundo Ivone Patrão, diretora do Colégio do Bosque Mananciais, em Curitiba (PR), algumas pessoas vão ter a sorte de descobrir isso desde pequenos, outras, mais maduras, mas é fundamental que a consciência dessa dignidade alcance a todos. “Entender essa singularidade, independente do momento da vida e saber o valor que tem cada ser humano é realmente muito importante”, afirma ela. “Isso porque, tudo o que uma pessoa possa fazer, pensar, amar, contribuir ou deixar de contribuir para a realidade dela vai estar sempre tingido por essa singularidade. Então cada pessoa que nasce é algo muito raro”.

“Tudo o que uma pessoa possa fazer, pensar, amar, contribuir ou deixar de contribuir para a realidade dela vai estar sempre tingido por essa singularidade. Então cada pessoa que nasce é algo muito raro”, explica Ivone.

Responsabilidade dos pais

Sendo um tema tão fundamental, como os pais podem ensinar isso às crianças? Para Ivone, os pais são os principais responsáveis pela educação dos filhos e, por isso, o trabalho deve ser feito primeiramente com eles. “Na escola, nós trabalhamos esse tema com os pais, depois com os professores e, consequentemente, os alunos vão entendendo e assimilando isso com base no convívio e no aprendizado que eles têm com os adultos que os cercam”, conta a diretora. “São os pais que mais podem ajudar os filhos a entender a importância de sua própria existência”.

E para isso, alguns passos são essenciais. Primeiro é preciso entender que “o segredo da educação está na formação de um bom ambiente educativo, onde as pessoas se esforcem realmente em melhorar nas virtudes”, explica Ivone. Isso significa que para as crianças compreenderem que têm uma dignidade intrínseca e, assim como elas, as outras pessoas também, elas precisam estar em um ambiente onde são respeitadas em sua individualidade.

“O segredo da educação está na formação de um bom ambiente educativo, onde as pessoas se esforcem realmente em melhorar nas virtudes”, afirma Ivone.

Amados incondicionalmente

“É importante conhecer profundamente o seu filho, principalmente o seu temperamento, porque tem coisas que para uma criança vão custar mais do que para a outra, pela própria maneira de ser”, afirma Ivone. Ao entender, respeitar e amar essa singularidade dos filhos, os pais ajudam as crianças a descobrirem que todos precisam ser amados incondicionalmente.

A pedagoga Tatyana Pallu Buisa é mãe de três meninas e, depois de começar a participar das formações para pais do Colégio do Bosque, percebeu que a linha pedagógica da escola conciliada com o protagonismo dos pais na educação dos filhos e a prática desse respeito e amor dentro de casa contribuíram para um grande avanço até mesmo no senso de justiça de suas filhas.

“Esse respeito à personalidade, ao temperamento, ao tempo de cada criança, a compreensão de que cada um tem a sua personalidade, o seu jeito, fez toda a diferença no comportamento das meninas”, conta a mãe. “Vi que elas cresceram emocionalmente e têm uma preocupação sobre como vão agir sem machucar os outros”.

Hábitos básicos

Depois de garantidos o respeito e o amor incondicional, algumas questões mais práticas também podem contribuir na formação da consciência dos pequenos sobre a dignidade humana. E começa no trabalho com os hábitos mais básicos tratados na infância: higiene, alimentação, sono e ordem.

“De forma bem concreta, a gente anima os pais a trabalharem com esses quatro hábitos básicos, porque assim, quando eles chegarem na idade da razão, aos seis, sete anos, esses bons hábitos se transformarão em virtudes”, explica Ivone. “Então, eu escovo o dente porque eu vejo um bem no dente escovado, ele fica limpo e não é digno do ser humano ficar com o dente sujo. E aí, conforme os alunos vão ficando mais velhos, vão tendo um aprofundamento dessas virtudes”.

Abrir os olhos ao mundo 

O terceiro passo envolve uma boa dose de realidade. E para isso, os projetos sociais são fundamentais. Ter contato com pessoas de outras classes sociais, com outros tipos de dificuldades, pessoas com deficiência física e mental, idosos em asilos, crianças em orfanatos, enfim, realidades completamente diferentes para que elas abram os olhos ao mundo.

“Tudo isso é bom para que as crianças realmente entendam: ‘olha, essa pessoa é tão digna quanto você e quanto qualquer outra. Cada um é realmente insubstituível, é único e tem a sua missão a cumprir nessa vida”, explica Ivone. “O que ajuda as pessoas a melhorarem é a realidade. Por isso, projetos que favoreçam essa compreensão são importantes, para que as crianças entendam que independente de classe social, independe do poder, cada um por si só tem um valor infinito, simplesmente por ser pessoa”.

“O que ajuda as pessoas a melhorarem é a realidade. Por isso, projetos que favoreçam essa compreensão são importantes, para que as crianças entendam que independente de classe social, independe do poder, cada um por si só tem um valor infinito, simplesmente por ser pessoa”, Ivone Patrão.

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