As alterações hormonais durante o ciclo reprodutivo da mulher geram sintomas físicos e emocionais que podem desestabilizar o casal nesse período.
As alterações hormonais durante o ciclo reprodutivo da mulher geram sintomas físicos e emocionais que podem desestabilizar o casal nesse período.| Foto: Bigstock

Acostumado com as mudanças de humor da esposa durante a famosa tensão pré-menstrual, *Daniel tem até uma técnica para driblar a irritabilidade e as reclamações durante esse período. “Como sei que qualquer coisa vai virar motivo para briga, evito dar corda para as discussões e tento fazer ela se sentir bem”, relata o administrador de 32 anos, que convida a companheira para assistir filme, oferece remédio para cólicas e até chocolate meio amargo para ela se animar. “Às vezes dá certo”, brinca.

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Essas atitudes, de acordo com o terapeuta de casais Matheus Vieira, demonstram preocupação com o bem-estar do cônjuge e evitam conflitos nesse momento de instabilidade hormonal enfrentado por quase 85% das mulheres. Afinal, “algumas ficam mais sensíveis, tristes, com sono, enquanto outras se veem irritadas, nervosas e incomodadas com os desconfortos que estão passando”, explica.

E como essas características variam de pessoa para pessoa, o marido precisa conhecer a esposa para identificar como é o ciclo dela, quando ocorre e se ela tem dicas para ajudá-los a lidar com a situação.

“Isso porque tem mulheres que preferem ficar quietas nesse período, enquanto algumas precisam se distrair, gostam de ganhar presentes e de conversar”, exemplifica o terapeuta, ao alertar que as informações apresentadas pela companheira ajudam, mas não são suficientes.

Ainda que seja importante perguntar o que pode amenizar a situação à esposa, o homem deve ter em mente que não adianta responder um questionário e segui-lo à risca para lidar com a TPM. “Estar disposto a aprender é ótimo, mas o período de tensão pré-menstrual não envolve só isso”, diz Vieira. “Existem outras situações que você perceberá no dia a dia, observando”.

Inclusive, algumas mulheres passam por tantas alterações no corpo e na mente durante o ciclo reprodutivo que até elas podem ter dificuldade para lidar com as mudanças. “Isso devido à grande oscilação hormonal que as prepara para uma possível gestação naquele mês”, explica a ginecologista Fernanda Schier de Fraga.

O ciclo reprodutivo

O primeiro responsável pelas alterações é o estrogênio liberado durante a menstruação, explica Fernanda, que é médica do Hospital de Clínicas (HC) e professora da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR). “Conforme acontece a descamação do endométrio, que é a camada interna do útero, esse hormônio gera aumento de outro, que é a serotonina, deixando a mulher mais disposta, feliz e iniciando o processo da ovulação”, relata.

Nessa fase, um terceiro hormônio chamado LH também entra em ação para atuar no amadurecimento dos folículos e fazer com que um deles libere o óvulo para ser fecundado. “Aí, a partir da ovulação, o corpo produz progesterona, se preparando para a possível gestação e apresentando sintomas físicos da TPM”, explica a especialista, ao citar os principais: cólica, retenção hídrica, dor nos seios, inchaço nas pernas e acne.

Além disso, aquele hormônio do bem-estar que aumentou no início do ciclo – a serotonina – é reduzido nesse momento, o que gera sinais emocionais como tristeza, irritabilidade e ansiedade. “A mulher tende a ficar mais cabisbaixa e brava, e as brigas e desconfortos entre o casal aumentam”, comenta a ginecologista.

Há casos, inclusive, de mulheres que têm sintomas psicológicos tão fortes que superam os sinais físicos do corpo nessa fase. “E isso indica um transtorno grave que precisa de tratamento”, alerta Fernanda, ao afirmar que os maridos são os que costumam identificar esse Transtorno Disfórico Pré-menstrual (TDPM). Afinal, “eles que percebem que a esposa é uma pessoa durante um período do mês e outra bem diferente em outro”.

Segundo a médica, o problema é conhecido como depressão cíclica, afeta entre 5% e 8% das mulheres e faz com que elas fiquem improdutivas no dia a dia. “Isso porque a queda de serotonina por predisposição genética ou ambiental é acentuada e a mulher não consegue nem mesmo sair da cama, ficando mal mesmo”.

Como amenizar a TPM

No entanto, a maioria das mulheres enfrenta a TPM comum e precisa apenas de empatia e apoio. “Então, pense em coisas que animem sua esposa para aumentar o nível de serotonina do corpo dela”, indica a especialista, sugerindo o uso de algum remédio para dor, de uma pomada para acne ou uma massagem na região lombar, para alivio das cólicas.

“E o chocolate também é excelente para elevar o hormônio do bem-estar”, garante. No entanto, ela indica o chocolate amargo, pois o açúcar inflama ainda mais o corpo e pode deixar a mulher com mais desconforto, inchaço e cólicas. “Aí será pior”.

Por fim, a médica explica que o uso de pílulas anticoncepcionais também minimiza os sintomas da TPM porque reduz a oscilação hormonal. “Então, se a mulher puder usar medicamentos como esse, é uma opção”, afirma, ao orientar que a paciente converse com seu médico para definir o melhor tratamento.

No entanto, se a mulher não deseja usar anticoncepcional por problemas de saúde, para evitar efeitos colaterais ou porque está tentando engravidar — como é o caso da família do *Daniel —, a TPM fará parte da rotina e precisará ser enfrentada com paciência, diálogo e chocolates.

“Temos que entender que é algo passageiro e que existe para gerar a vida, então, temos que ter calma e deixar o corpo dela trabalhar”, afirma o administrador, ansioso pelo resultado do processo. “Vai que o teste de gravidez dá positivo em breve, né? Estamos tentando”.

*Daniel é um nome fictício, pois o administrador de 32 anos entrevistado nesta matéria preferiu não se identificar

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