Sem equilíbrio, orgulho pode se tornar nocivo para o relacionamento, gerar discussões frequentes e afastar o casal
Sem equilíbrio, orgulho pode se tornar nocivo para o relacionamento, gerar discussões frequentes e afastar o casal| Foto: Cottonbro/Pexels

“Sentimento de prazer, de grande satisfação com o próprio valor e com a própria honra”. Ainda que não seja a primeira definição que vêm à cabeça quando falamos de orgulho, esse é o principal significado da palavra no dicionário e mostra que ter uma autoestima elevada é fundamental para que o indivíduo construa sua imagem pessoal, sinta-se valorizado e tenha boa saúde emocional. No entanto, é necessário equilíbrio para que isso não se torne algo nocivo e faça com que o sujeito menospreze as pessoas ao redor.

De acordo com o teólogo e terapeuta familiar Claudio Ebert, o problema costuma se apresentar em forma de preconceito com quem possui diferente classe social, gênero ou cultura. Só que, além de afetar sua maneira de enxergar esses grupos, o orgulho excessivo também interfere significativamente em relacionamentos bem próximos, como o casamento. “Quando alguém precisa constantemente se afirmar e, com isso, menosprezar o outro, os atritos dentro de casa tornam-se inevitáveis”, lamenta o especialista.

É o que acontece na casa da publicitária *Rita, de 27 anos. Casada desde 2014 com o vendedor *Pedro, ela percebeu logo nos primeiros meses que o marido não aceitava ser questionado e que qualquer diferença de opinião se tornava motivo para discussões. “São coisas muito simples, mas que ficam maiores porque ele não gosta que eu o contrarie”, relata a paranaense. “Aí o *Pedro se altera, acaba falando coisas que me machucam e depois passa horas emburrado”.

Segundo Ebert, isso acontece porque – na maioria dos casos –, o orgulhoso tem dúvidas a respeito do seu valor próprio e sente necessidade de autoafirmação constante, querendo sempre ter razão. Com isso, “constrói uma barreira ao seu redor para evitar ataques ou acusações”, explica o terapeuta, ao apontar que esses indivíduos ainda justificam suas atitudes e insistem que estão certos o tempo todo. “Parece que seus olhos estão fechados para o próprio orgulho”.

Há casos, inclusive, em que o sujeito assiste a filmes ou programas televisivos que escancaram esse mal em alguns personagens, e ele até se escandaliza com as atitudes apresentadas na tela. “Só que acaba não percebendo que é bem parecido com o ator ou a atriz”, afirma o especialista. Por isso, é necessário que o cônjuge tenha paciência, humildade e sabedoria para ajudar o marido ou esposa a reconhecer o problema. “Não em uma discussão acalorada, mas em tempos de bonança, quando os dois possam conversar”.

Como vencer o orgulho?

Conhecida popularmente como “DR” ou discussão da relação, Ebert garante que essa é a melhor maneira de corrigir falhas como o orgulho excessivo, que pode estar prejudicando o relacionamento conjugal. Então, “se você não gosta de ter uma ‘DR’ frequentemente, teria sido melhor não ter se casado”, afirma o terapeuta, afirmando que essa é a estratégia mais eficiente para apontar problemas e buscar soluções. Inclusive, “casais que conversam mais são casais mais felizes, pois nenhum relacionamento conjugal resiste sem uma boa e agradável conversa a sós”.

“Casais que conversam mais são casais mais felizes, pois nenhum relacionamento conjugal resiste sem uma boa e agradável conversa a sós”

No entanto, ele também garante que esse diálogo não pode ser chato, incômodo ou agressivo. Ou seja, é no meio de uma troca de frases descontraída e animada que um dos dois pode apontar algo que o incomoda. Dessa forma, aproveita um momento calmo para mostrar que não tem interesse em vencer uma disputa ou falar dos erros do cônjuge, mas quer somente melhorar a relação. “Talvez até com pitadas de humor, de leveza e de cura”.

Com esse espaço acolhedor para falar a respeito do que sente e pensar em suas atitudes, é possível que o indivíduo orgulhoso conte que seus pais agiam dessa forma e que, por isso, ele não sabe se portar de outro jeito. “Se esse for o caso, esta pessoa precisará aprender a ver as coisas e pessoas de maneira diferente e, se necessário, deverá fazer terapia, buscar ajuda de conselheiros ou falar a respeito do problema com amigos íntimos”.

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