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Conviver com a ausência da pessoa escolhida para passar o resto da vida não é nada fácil. Uma pesquisa feita pelo Instituto do Casal revela que ficar viúvo é o segundo maior medo dos casais brasileiros. Deparar-se com a solidão depois de anos de convivência pode parecer assustador, afinal, aquela pessoa com quem se dividia a vida, experiências, emoções e até funções não está mais ao seu lado.

O temor que cerca a ideia de perder a pessoa amada está, segundo o teólogo Márcio Luiz Fernandes, no fato de que “ficar sozinho” é um medo do ser humano de modo geral, pois, fundamentalmente, ele não foi feito para essa situação. Perder alguém com quem se criou vínculos afetivos fortes é experimentar “algo radicalmente humano: as dimensões interiores da dor, da fragilidade, da dependência, da perda, do sofrimento”.

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E a compreensão desse novo momento na vida varia de pessoa para pessoa, sendo necessário que ela possa viver o luto para se adaptar. Então como é possível viver essa nova realidade, lidando agora com a viuvez? Além do tempo que cada um necessita, as dificuldades têm suas particularidades para quem se torna viúvo ainda jovem e para aqueles que perdem seu companheiro já no final da vida.

Viuvez precoce x Viuvez tardia

Por ser uma situação “menos natural” a viuvez precoce pode ser um choque para quem se casou há pouco tempo e pode ter filhos pequenos, adolescentes ou jovens. “É comum que essa morte seja sentida como algo brutal, havendo a sensação de que este outro foi arrancado de nossas vidas” conta o psicólogo Luiz Henrique Michel, especialista em luto.

Já Fernandes explica que a pessoa que ficou viúva precocemente, além de conviver com a dor, terá de se preocupar com questões muito práticas como a criação dos filhos, o sustento e a organização da vida, além da própria preocupação com a saúde física e mental. Estar nessa circunstância ainda na juventude ou mesmo na vida adulta implica algumas “preocupações muito determinadas com relação aquilo que é imediato”, avalia.

De outro modo, na viuvez tardia é preciso despedir-se de alguém com quem se compartilhou a vida toda. Enquanto na viuvez precoce a pessoa se vê procurando soluções de como criar os filhos sozinha, na velhice os filhos já estão criados, já têm suas próprias famílias e, por isso, o sentimento de solidão pode ser maior.

Mas apesar das peculiaridades que cada história carrega, há uma semelhança que é principal: ambos sentem “o sofrimento e a solidão pelo distanciamento daquele com o qual se viveu e se compartilhou por muito tempo as próprias emoções, a própria vida e as próprias vivências”, explica Fernandes.

Voltando à rotina

Após viver o luto e entender os desafios que esta nova realidade trará, é preciso encarar a vida novamente e, segundo Michel, buscar encontrar um novo lugar para esta pessoa em sua vida. “Não é necessário esquecê-la. Muito pelo contrário, as lembranças, os aprendizados e mesmo os sonhos partilhados podem permanecer vivos, ainda que não haja mais a presença física da pessoa amada”, comenta. “Ao mesmo tempo – sem jamais deixar de se respeitar -, é importante retomar gradualmente a vida, buscando suporte sempre que necessário em amigos, familiares, comunidade religiosa (no caso daqueles que têm uma), grupos de ajuda mútua ou profissionais da área da saúde”, lembra ele.

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A família também tem papel fundamental nesse momento, porque é nela que o viúvo encontrará grande apoio. E muitas vezes o que o enlutado precisa é se sentir amado por meio de pequenos gestos e pequenas disposições de se fazer presente. Ajudar nas tarefas domésticas e organização financeira, é um papel que pode ser feito pelos familiares, por exemplo.

Mas, claro, muito terão facilidade em expressar esse amor por meio das palavras. E mesmo separados por quilômetros de distância, é possível estar presente por meio das redes sociais.  Mas Michel lembra que é comum no momento de tentar amparar o viúvo, que a família não escolha bem as palavras. “Comentários sobre ‘encontrar um novo parceiro ou parceira’ não devem ser feitos, pois podem causar a impressão de que o cônjuge que faleceu poderia ser facilmente substituído por outra pessoa”, aconselha Michel.

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