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Durante o século XX, uma série de intelectuais europeus começaram a refletir sobre a importância e dignidade do ser humano. Defenderam, diante de várias correntes filosóficas, que o ser humano é especial no cosmos, não podendo ser sujeito das massas, mas que tampouco estava descolado da realidade que o cercava. Essas ideias ganharam notável alcance, sobretudo após a 2ª Guerra Mundial, quando auxiliaram a redação de diversas constituições europeias, a Declaração dos Direitos Humanos da ONU ou o Concílio Vaticano II. Por detrás destas ideias estava o filósofo francês Emmanuel Mounier, que cunhou o termo “personalismo” para significar este modo de filosofar feito a partir da pessoa humana.

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No entanto, o personalismo de Mounier não resultou numa linha filosófica no sentido mais tradicional do termo. O que se verificou, na prática, foi um grande número de filósofos de diferentes formações e interesses que, durante o século XX, puseram-se a refletir sobre a pessoa, sua dignidade e ética. Esse caráter aparentemente pulverizado das reflexões que ocorreram nos diversos países é o que torna tão diferentes entre si a produção intelectual de homens e mulheres como Mounier, Jacques Maritain, Edith Stein, Dietrich von Hildebrand, Martin Buber, Emmanuel Levinas, López Quintás, Julian Marias, entre outros.

“Viver no Constante Diálogo” – O Personalismo Dialógico de Ferdinand Ebner

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Nesta aparente dissolução, é possível pensarmos num personalismo global, numa perspectiva comum a todos estes filósofos? Para Juan Manuel Burgos, a resposta é positiva. Seu livro recém traduzido para o português, “Introdução ao Personalismo” é o resultado amadurecido desta proposta. Após discorrer sobre as bases originárias e discorrer sobre os diversos autores, agrupados em algumas vertentes que constatou para o movimento (o personalismo ontológico, comunitário, existencialista, dialógico, etc.), Burgos dedica a última parte de sua obra à consideração de uma nova proposta personalista, elencando os seus pontos estruturais e alcançando uma harmoniosa coerência sobre o que é legitimamente ‘ser uma pessoa’.

Surpreendentemente, o que resulta desta harmoniosa coerência não é um mero tratado de história da filosofia, mas uma perspectiva filosófica que se abre para o século XXI. Embora existam mudanças visíveis em nossa sociedade, comparados com os tempos sombrios da primeira metade do século XX, ainda assim existem muitas semelhanças: a desfiguração da pessoa, seja no coletivismo ou no individualismo, é certamente uma delas. Cem anos se passaram, e ainda não conseguimos descobrir que não somos meras engrenagens numa máquina, mas guardiões do Universo.

Introdução ao Personalismo
Juan Manuel Burgos
Cultor de Livros, 2018.

 

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