Letícia sempre foi criada por José Augusto, mas quando a jovem tinha 23 anos, a adoção ocorreu de fato, no papel.
Letícia sempre foi criada por José Augusto, mas quando a jovem tinha 23 anos, a adoção ocorreu de fato, no papel.| Foto: Arquivo pessoal da entrevistada

Ao escrever a história de hoje ia pensando que, na simplicidade e concretude do dia a dia, se revela o Amor - e aí se encontra o extraordinário. A história de Letícia e seu pai, José Augusto, me revelaram isso. A paternidade que já era exercida, mas que ao ser oficializada dá reconhecimento merecido a tal sentimento.

Letícia Caroline tem 24 anos, é terapeuta ocupacional e aos 4 anos ela pergunta para o companheiro da sua mãe: QUER SER MEU PAI? A resposta não poderia ser melhor, além do SIM momentâneo, ele foi sendo expressado no decorrer da vida da jovem.

Os pais de Letícia Caroline se separaram quando ela tinha 4 anos e, desde então, os laços com seu pai biológico foram se distanciando cada vez mais, bem como a presença na vida um do outro. “Eu lembro dele, dos momentos que a gente teve mesmo depois da separação dos meus pais. Mas esse laço foi se perdendo, um abandono afetivo”. Aos poucos, até mesmo o contato e qualquer relação foi perdida.

Letícia Caroline e seu pai, José Augusto.
Letícia Caroline e seu pai, José Augusto.| Arquivo pessoal da entrevistada


Contudo, amor e cuidado nunca faltaram em sua vida. Ela foi criada por José Augusto de Sá Alessandra Kaspchak: “Ele sempre cumpriu o papel de pai, eu tenho um sentimento de filha mesmo, não de enteada, algo assim. Sempre que me perguntaram sobre meu pai, eu falava o nome dele e sobre ele”.

Apesar da criação, da presença e da paternidade de José Augusto, algo sempre incomodou a jovem: seu nome. Aos 18 anos ela decidiu mudar o nome no papel - foi um processo interno e externo. Ao pensar na possibilidade, conta que entrou numa crise, pois nem mesmo o sobrenome da mãe ela tinha, mas sim o nome de uma pessoa que nem conhecia.

“Meu sobrenome era como o meu pai biológico era chamado, desde pequena isso me incomodava. Eu mudava a forma ao escrever, por exemplo, a inicial era T e eu escrevia parecendo um J e abreviado, justamente para não ser representada por esse nome”, lembra Letícia.

A terapeuta ocupacional seguiu adiante em relação à mudança do seu nome, pois gostaria de se reconhecer em seu nome e honrar aqueles que a criaram e amaram. Mas a mudança acarretou outra.

Letícia, com sua mãe, Alessandra Kaspchak e seu pai, José Augusto de Sá. <br />
Letícia, com sua mãe, Alessandra Kaspchak e seu pai, José Augusto de Sá.
| Arquivo pessoal da entrevistada

“Encontrei o advogado, Elizeu Artigas, e ele mostrou a opção de entrada num processo de adoção, além de uma mudança de nome. Foram meses muito difíceis [com toda a tramitação judicial], ele precisou entrar em contato com meu pai biológico, ele se negou a manifestar, o que de certa forma facilitou no processo. O advogado me representou muito bem, apesar dos desafios foi um processo muito bonito e emocionante. Fui adotada aos 23 anos e tenho o sobrenome da minha mãe e do meu pai”, conta.

Com processo de adoção, foi emitida uma nova certidão de nascimento, com alteração na filiação, os nomes dos pais e o novo nome da jovem: Letícia Caroline Kaspchak de Sá. A vida se encarregou de realizar o desejo da terapeuta ocupacional quando ela perguntou aos 4 anos de idade: “quer ser meu pai?”.

Deixe sua opinião