Marcela Errecalde, porta-voz da Unidad Provida e Latinoamerica por las 2 Vidas.
Marcela Errecalde, porta-voz da Unidad Provida e Latinoamerica por las 2 Vidas.| Foto:

Eles não tinham dinheiro, não contavam com nenhum apoio internacional relevante e lutavam contra um governo comprometido com poderosos grupos estrangeiros que exigiam o aborto legalizado a qualquer custo na Argentina. Como então o movimento pró-vida da Argentina venceu uma batalha que tinha tudo para perder?

Para entender qual o segredo dos nossos vitoriosos irmãos argentinos, o Blog da Vida conversou com Marcela Errecalde, porta-voz da Unidad Provida e Latinoamerica por las 2 Vidas, a rede de organizações em defesa da vida e da família que liderou a resistência contra a lei que legalizaria o horror do aborto no país vizinho.

 

Como começou a articulação da Unidad Provida?

Começou com a decisão do presidente Macri de habilitar a discussão sobre o projeto do aborto. Aquilo foi muito perturbador. Surpreendeu todo mundo, desde seu eleitorado até a oposição. É verdade que, no início, vários de nós já tínhamos uma suspeita sobre Macri, mas então ele participou do Congresso Eucarístico e lá reafirmou seu compromisso com o cuidado da vida desde a concepção, ganhando a confiança de muitos. Quando a traição aconteceu, a revolta foi grande, o que contribui para unir a maior aliança pró-vida na história da Argentina, a Unidad Provida.

 

Como foi a divisão de tarefas dentro da rede?

Foi tudo muito rápido, pouco sincronizado, mas conseguimos nos organizar. Definimos frentes de atuação específicas e cada grupo empenhou suas energias o que foi combinado. A Frente Jovem, por exemplo, da qual faço parte, atuou principalmente nas bases juvenis, mas também no contato com os parlamentares.

Além disso, conseguimos atrair para junto de nós pessoas muito bem formadas, com anos de experiência no desenvolvimento de projetos de assistências às mulheres em gravidez vulnerável. Pessoas que ofereceram, inclusive, soluções políticas concretas utilizadas em governos anteriores.

 

Foi difícil levar aquela multidão às ruas?

Na Argentina, os protestos nas ruas são comuns. Há muito descontentamento, há muito tempo, então as ruas estão sempre reclamando. Mas com a pauta que tínhamos, de fato, foi a primeira vez.

A primeira marcha que fizemos neste ano, em 25 de março, foi gigantesca, só que mesmo assim nenhum canal de tevê nos mostrou. Aquilo nos fez perceber duas coisas: que a luta seria muito difícil e que teríamos que nos esforçar ainda mais. O desdém da mídia acabou fortalecendo nosso espírito. Os argentinos são assim, quanto mais difícil a situação, mais teimosos somos. E assim voltamos às ruas várias vezes, até levarmos 5 milhões de pessoas na última marcha (em todo o país).

 

E o convencimento dos parlamentares?

O apoio dos 125 deputados primeiro e dos 38 senadores depois não foi nada fácil. Eles sofriam pressões políticas e econômicas fortíssimas. Apesar disso, felizmente, essa questão do aborto foi uma linha ética que muitos não estavam dispostos a ultrapassar. Sabemos que o caso gerou crise dentro do partido do próprio Macri, os danos políticos ainda não se contabilizaram totalmente e situação do governo diante da população agora é grave. Essa questão pode significar o fim de Macri.

 

Por que vocês acham que perderam na Câmara e venceram no Senado?

Na Argentina, a cidade de Buenos Aires tem um peso muito grande na Câmara. Os interesses são mais concentrados e os deputados tendem a ser mais progressistas. O Senado, contudo, é federal, o interior do país tem mais representatividade ali e o perfil é mais conservador. No Senado, contamos com a ação determinante das províncias (estados, no Brasil) que cobraram, pessoalmente, um compromisso de seus representantes.

Essa articulação custou muito de pessoas concretas que trabalharam por esse objetivo intensamente, chegando a dormir apenas três horas por noite nos últimos quatro meses. Todo esse empenho foi visível para os parlamentares que agora nos respeitam muito mais.

 

E o dinheiro? Como pagaram pela comunicação visual e tantas outras despesas que toda aquela movimentação exige?

Pagamos tudo do nosso próprio bolso. Não contávamos com nenhuma grande empresa do nosso lado, nem dinheiro algum do exterior. Esse é o maior problema de grupos pró-vida no mundo todo. É exatamente a mesma realidade no Chile, na Colômbia, no Equador. Somos pobres.

Foi tudo financiado por doações pessoais de quem trabalhava conosco no movimento, mas não há a menor comparação com o volume de dinheiro de que os defensores do aborto dispõe.

 

Que recomendação daria aos grupos pró-vida no Brasil?

Minha recomendação é a de que se organizem de forma orgânica, evitando brigas e excesso de individualismo. Ponham as diferenças de lado e trabalhem de forma enérgica, sem dar espaço ao avanço do inimigo comum.

Outra coisa que foi muito importante aqui é buscar o apoio de uma boa produtora de conteúdos, como tivemos da Faro Films aqui. Eles produziram a maioria dos vídeos que viralizaram na internet, ajudando-nos a manter viva a movimentação.

 

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