Homossexualidade, celibato e abuso sexual na Igreja: 5 conclusões do maior estudo já feito sobre o tema
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Na nova onda de debates sobre os casos de abuso sexual cometidos por padres contra menores de idade – levantada no início do ano pela repercussão da viagem do Papa Francisco ao Chile, reacendida pela renúncia de Theodore McCarrick ao cardinalato e pela publicação do relatório da Pensilvânia e mais recentemente alimentada pela carta aberta do arcebispo Carlo Maria Viganò –, tem se falado muito sobre a raiz da crise dos abusos. Alguns levantam a resposta clichê que põe a culpa no celibato. Outros põem a culpa no fato de que há muitos padres homossexuais.

Em 2011, a Conferência dos Bispos Católicos dos Estados Unidos (USCCB, na sigla em inglês) encomendou um amplo estudo sobre os relatos de abusos cometidos por padres ao John Jay College of Criminal Justice, da City University of New York. Conduzida por pesquisadores sem ligações com a Igreja Católica, a pesquisa coletou dados de abusos cometidos nos Estados Unidos entre 1950 e 2010 e deu origem a um relatório de 152 páginas. Trata-se do maior estudo já feito sobre o tema do abuso de menores, não apenas no âmbito católico, mas em geral: abrange mais de 10 mil casos de abuso, cometidos por mais de 4,3 mil padres. Confira algumas conclusões que emergiram dos dados levantados:

1) O tipo de formação dada no seminário faz muita diferença

A maior parte dos abusadores teve a sua formação no seminário entre as décadas de 1940 e 1950 – 70% de todos eles foram ordenados antes de 1970. Embora o declínio no número de casos tenha acontecido antes do fortalecimento da dimensão da formação humana no currículo dos seminários, os autores do estudo sustentam que esse novo enfoque foi um fator responsável por manter baixos os índices de abuso. É significativo que 94% dos casos tenham ocorrido antes de 1990.

2) Apontar a homossexualidade como fator responsável pelos abusos é um erro

O estudo descartou a hipótese de associação entre a orientação homossexual e os abusos. “Os dados não sustentam que a identidade homossexual e/ou o comportamento homossexual antes da ordenação sejam fatores de risco significativos para o abuso sexual de menores. O único fator de risco significativo relacionado à identidade e ao comportamento sexual é uma identidade sexual ‘confusa’, e essa condição é mais comumente encontrada em abusadores ordenados antes da década de 1960”, diz o texto.

3) O acesso às vítimas era um componente fundamental da atividade padrão dos abusadores

O que é consistente no histórico dos abusos é que o acesso às vítimas era um componente fundamental do perfil dos abusadores. Os locais e as situações variavam ligeiramente, mas o que permanecia era que o padre abusador tinha proximidade com as vítimas e oportunidade de ficar sozinho com elas. O estudo relaciona esse fator à preponderância de meninos entre as vítimas, já que até 1983 meninas não podiam ser coroinhas.

4) Os casos de abuso não podem ser caracterizados genericamente como “pedofilia”

O estudo percebeu ainda que a grande maioria dos padres abusadores não podem ser classificados como “pedófilos” por não manifestarem uma especial predileção por violentar crianças que ainda não chegaram à puberdade. A maioria dos abusadores eram “generalistas”, que cometiam abusos de forma indistinta em relação à idade ou ao sexo da vítima. Obviamente, isso não diminui em nada a gravidade da questão.

5) O celibato não é um fator associado aos abusos

O relatório concluiu ainda que o celibato não tem qualquer responsabilidade pelo aumento ou declínio dos casos de abuso ao longo dos anos. Além disso, ficou claro que os padres que abusaram de menores manifestam um comportamento semelhante ao de outros tipos de abusadores, no que diz respeito ao método de abordagem das vítimas e às técnicas utilizadas para obter o seu silêncio.

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