Mãe de uma das vítimas olhando para o local onde o corpo de seu filho pode estar (foto: Unidade de Vitimas/Governo da Colômbia)
Mãe de uma das vítimas olhando para o local onde o corpo de seu filho pode estar (foto: Unidade de Vitimas/Governo da Colômbia)| Foto:

Um grupo de mães de Medellín, na Colômbia, busca seus filhos desaparecidos há 15 anos embaixo de uma montanha de escombros de cimento. Os desaparecimentos foram obra do confronto entre as milícias armadas da guerrilha e os comandos paramilitares de extrema direita pelo controle das zonas mais populares da cidade.

“Se precisar, vou escavar eu mesma, com as minhas mãos”, diz Rubiela Tejada. Seu filho, John Alexander, desapareceu no dia 21 de agosto de 2002 na Zona 13. Seu outro filho, Jonathan, foi assassinado dia 21 de agosto de 2011 ao voltar do trabalho na Zona 13. A Zona 13 é um enorme conglomerado de bairros no oeste de Medellín que, desde 1995 e durante mais de uma década, foi o epicentro das batalhas.

Rubiela segue lutando há 15 anos para tirar seu filho de onde acredita que o levaram: uma coluna de 18 toneladas de lixos e escombros. “A Escombreira é um depósito de resíduos de construção no qual suspeita-se que foram enterradas ao menos 92 pessoas, a maioria delas, vítimas dos grupos paramilitares que existiram nesta zona”, explica à BBC John Freddy Ramírez, antropólogo forense e representante da Procuradoria da Colômbia. “E está localizada na parte alta da Zona 13”.

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“A teoria é que os desmembraram com a ideia de fazer pequenos buracos na terra para que fique mais difícil achá-los. O modus operandi de fazer o corpo desaparecer não era produzir terror, mas uma maneira de acabar com todas as evidências e assim evitar a punição”, explica Ramírez.

Conforme conta a reportagem da BBC, em 2014, Juan Carlos Villa Saldarriaga, de pseudônimo Móvil 8, ex-comandante preso de um dos grupos paramilitares que operaram na região, decidiu apontar três lugares onde disse ter dado a ordem de enterrar várias pessoas executadas por seus homens durante a Operação Orión. Foi à Escombreira com os investigadores do caso, tentando uma redução de sua pena. Com esse depoimento, a Prefeitura de Medellín e o Ministério Público decidiram escavar um dos locais apontados por ele.

Durante 155 dias entre junho e dezembro de 2015, Rubiela e suas companheiras do grupo Mulheres Caminhando Pela Verdade esperaram alguma resposta. Abriu-se um enorme buraco, com o tamanho de onze piscinas olímpicas. “É a maior zona de escavação urbana do mundo, sem precedentes”, diz Ramírez. A retroescavadeira tirou pedaços de bueiros, mangueiras, sacos de leite com data de vencimento de 1997, extratos de ossos de galinha, cães de rua, peixes fossilizados em blocos de gesso.

Em meados de dezembro de 2015, a máquina chegou a uma profundidade onde era evidente que não havia escombros misturados com terra: era o terreno original da montanha. Nenhum resto mortal humano foi encontrado. “Temos muita esperança, mas no dia em que acabaram ficamos todas abaladas. Foi muito dolorido ver que escavaram até o último momento e não encontraram nada”, recorda Rubiela.

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O custo da operação chegou a quase meio milhão de dólares (mais de um bilhão e meio de reais) e os críticos da busca dos restos reclamaram que era um trabalho sem resultados. O lugar foi transformado em local de memória e desistiram de buscar desaparecidos nos outros pontos indicados por Móvil 8.

Rubiela quer que o governo continue buscando até dar-lhes uma resposta. “Não quero dinheiro, quero que me digam a verdade e não nos deixem esperando. Para que ter a barriga cheia se o coração está vazio? Para quê?” Uma nova espera está por começar: em junho, o Ministério Público anunciou que continuará a escavação na Escombreira, ao menos nos outros dois polígonos apontados pelo ex-comandante paramilitar.

Luto de longa data

A BBC ouviu a prefeitura de Medellin, e de acordo com o governo municipal cerca de 2 mil pessoas morreram em meio aos confrontos, mas ninguém sabe ao certo o número de desaparecidos. Um deles é o filho de Rubiela. “Nesse dia, estávamos comendo com meus filhos que haviam recém chegado da escola, eu me levantei na cozinha e um dos homens com o rosto coberto entrou na casa e o levou enquanto eu lavava o prato. Ele tinha 17 anos. Eu não pude fazer nada”, conta. Quando saiu à rua para ver o que se passava, era como se o mundo houvesse acabado: não havia nada. “E até agora não voltou, nem vivo nem morto”, diz.

Depois que seu filho se foi naquela tarde de agosto, Rubiela decidiu continuar a lutar para encontrá-lo junto com outras mães que também buscavam os seus. Porém, nove anos depois, arrancaram seu filho Jonathan do ônibus enquanto ele voltava do trabalho em uma construção, levaram-no a um terreno baldio e lhe deram três tiros. “Depois vieram me dizer que eu teria que sair do bairro senão ficaria sem filhos”, lamenta, enquanto mostra a foto de Andrés, seu terceiro filho, o mais novo, o sobrevivente.

Assista a um documentário sobre o caso (em espanhol):

Com informações de BBC e G1.

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