Fotos: Agência Brasil
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No começo do mês, o deputado federal Marco Feliciano (PSC-SP) foi acusado de estupro e agressão grave por uma jornalista de 22 anos, militante do PSC. Patrícia Lélis, de Brasília, acusou ainda Talma Bauer, assessor do deputado, de a ter mantido em cárcere privado e obrigado que ela produzisse vídeos negando as acusações.

O caso teve muitas reviravoltas desde então e hoje Patrícia foi indiciada por denunciação caluniosa e extorsão no caso de Bauer, que corre em uma delegacia de São Paulo. Já o caso contra Feliciano foi apresentado ao Supremo Tribunal Federal, já que o deputado tem foro privilegiado.

Segundo a jovem, ela e Feliciano se conheceram em uma audiência sobre o aborto na Câmara dos Deputados. No meio do debate, Feliciano elogiou os argumentos de Patrícia e os dois passaram um ao outro seus números de telefone. A partir daí, eles se mantiveram em contato sobre questões de interesse do partido.

A história é complicada e parece que o desfecho está longe de chegar. Enquanto isso, entenda melhor o caso, com essa cronologia preparada pelo Sempre Família.

15 de junho

Segundo a versão de Patrícia, Feliciano a teria atraído até o apartamento funcional dele, em Brasília, para uma reunião da juventude do PSC. Na ocasião, contudo, não havia reunião nenhuma. Patrícia diz que se tratava de uma emboscada. A sós com Feliciano, ela teria recebido a oferta de um cargo no partido com um salário de R$ 15 mil, sob a condição de que se tornasse amante do deputado.

A jornalista teria então recusado e tentado sair do apartamento, cuja porta estava trancada. Feliciano a teria agredido, com um soco na boca e um chute na perna de Patrícia. O barulho chamou a atenção de uma vizinha, que teria tocado a campainha insistentemente. “Feliciano abriu a porta e uma mulher perguntou se estava tudo bem. Enquanto isso, Patrícia vestiu algumas roupas e conseguiu sair de lá”, disse à ISTOÉ José Carlos Carvalho, advogado da jovem.

No mesmo dia, a jovem teria procurado o PSC para relatar o caso. O presidente do partido, pastor Everaldo, candidato à presidência da República em 2014, teria oferecido dinheiro para que ela desistisse da denúncia. Bauer, assessor do deputado, diz que Patrícia realmente procurou o PSC, mas que em nenhum momento foi recebida pelo pastor Everaldo. À imprensa, Patrícia disse que não foi a primeira a sofrer abuso por parte do deputado, mas que foi a primeira a denunciá-lo.

2 de agosto

A coluna Esplanada, do UOL, divulga as denúncias de Patrícia sobre o caso que teria acontecido em 15 de junho e publica supostos prints de conversas entre a jovem e Feliciano no aplicativo Telegram. A coluna diz que as conversas aconteceram por chat privado – quando o celular é configurado para que as mensagens se apaguem automaticamente em segundos ou minutos.

Nas conversas, Feliciano teria enviado mensagens ameaçadoras e que fariam referência ao suposto abuso. Segundo a coluna, dois funcionários do PSC confirmaram que o número que aparece era o usado pelo deputado.

A coluna teria entrado em contato com Bauer, que disse: “Informo que desconheço tais acusações e as referidas mensagens postadas. Conheço a jovem por meio de sua participação no PSC, é uma grande lutadora contra o aborto e a favor das causas sociais.”

3 de agosto

Circulam na internet áudios em que a jovem diz, durante conversa com Bauer, que foi abusada sexualmente por Feliciano. Bauer nega ser o interlocutor dos áudios, dizendo que nunca conversou com ela em lanchonete, mas é desmentido depois por um jornalista que publica um vídeo mostrando a conversa dos dois.

Depois, a jovem gravou dois vídeos, publicados na internet, em que desmente ter feito qualquer tipo de acusação contra Feliciano. “A todos esses jornalistas que me ameaçaram, falando que eu tinha que contar a verdade, estou aqui, falando a verdade. A verdade é que vocês estão mentindo, está em época de eleição, e o que vocês querem é destruir a direita, mas não é desse jeito que vocês vão conseguir. O pastor Marco Feliciano é uma pessoa íntegra, cuja qual tenho um contato muito bom, sempre muito respeitoso, muito amigável”, diz Patrícia.

4 de agosto

Izac Michta Filho, conhecido como Polaco, um militante de direita catarinense que mantém um canal no YouTube, faz um vídeo dizendo que Patrícia usou do mesmo modus operandi com ele, acusando-o de abuso. “Já tive um enrosco com ela, onde ela tentou de todas as formas me denegrir”, diz ele. “Ela sempre montou conversas, prints, essas coisas, para tentar prejudicar alguém”.

5 de agosto

Patrícia alega a jornalistas que fez os vídeos sob ameaça de Bauer, que a teria mantido em cárcere privado em São Paulo. A jovem é encaminhada à Corregedoria da Polícia Civil, já que o assessor de Feliciano é investigador da Polícia Civil aposentado. Da Corregedoria, é levada para o 3º Distrito Policial, no centro de São Paulo, onde registra boletim de ocorrência.

Bauer chega a ser levado para depor na delegacia, nega tudo e é solto horas depois. Ao sair da delegacia, em entrevista à TV Globo, o assessor diz que tinha ido prestar esclarecimentos “sobre uma menina que veio fazer uma falsa comunicação de fatos”.

“Isso me parece que é uma perseguição política. As esquerdas estão aí, querendo derrubar todo mundo, mas nós estamos firmes, com Jesus venceremos”, diz Bauer ao ser liberado. O delegado diz que continuaria investigando o caso.

O perfil de Patrícia nas redes sociais contradiz sua denúncia de que teria sido mantida em cárcere privado, pois há publicações do mesmo período que a mostram junto de amigos, em passeios na capital paulista. Além disso, o seu ex-namorado, Rodrigo Simonsen, disse depois que dormiu quatro noites com Patrícia no hotel San Raphael, no mesmo período.

6 de agosto

Feliciano se manifesta. O deputado publica um vídeo nas redes sociais em que aparece ao lado da esposa afirmando que houve uma falsa comunicação de crime e dizendo que confia na justiça. “Embora eu esteja machucado, com minha família toda sofrendo, eu não vou julgar essa moça. Eu perdoo ela. Embora eu espere que ela seja responsabilizada pela falsa comunicação do crime, eu perdoo ela”, diz o deputado.

O site Gospel+ publica supostos prints das primeiras conversas entre Feliciano e Patrícia pelo WhatsApp. Segundo o portal, Feliciano teria publicado por engano um dos prints em 28 de junho, durante um debate com o humorista Gregório Duvivier.

Na conversa, a jovem teria contado que sofreu estupro na adolescência, pede aconselhamentos e orações. Dias depois, em novas mensagens divulgadas pelo site Gospel+, ela teria enviado fotos provocantes ao deputado.

Uma das imagens, porém, apresenta um erro no horário de envio das mensagens, gerando dúvidas sobre a veracidade dos prints. O próprio portal apagou mais tarde a imagem que mostrava o erro.

7 de agosto

Em Brasília, Patrícia vai à Delegacia de Atendimento à Mulher e faz um boletim de ocorrência denunciando Feliciano. Como o deputado tem foro privilegiado, a ocorrência é remetida ao Supremo Tribunal Federal.

8 de agosto

A Procuradoria-Geral da República recebe uma representação contra o deputado, protocolada por um grupo de deputadas. Patrícia, por sua vez, vai à Procuradoria Especial da Mulher, no Senado Federal, para denunciar Feliciano mais uma vez.

A Polícia Civil de São Paulo ouve o depoimento do gerente do hotel em que Patrícia ficou hospedada na capital paulista e recebe imagens de câmeras de vigilância do hotel. As imagens mostram a jornalista em clima descontraído com Bauer no saguão, abraçando-o. Foi também Bauer quem pagou a conta dela no hotel. Com base nas imagens, o delegado Luiz Roberto Hellmeister descarta a hipótese de que o assessor de Feliciano manteve a jornalista como refém.

10 de agosto

A Polícia Civil divulga as imagens das câmeras de segurança do hotel que, conforme a Polícia Civil, derrubam a versão de Patrícia de que foi feita refém por Bauer. Com base nesses vídeos e em áudios entregues à polícia, o delegado diz que vai investigar se a jornalista cometeu falsa comunicação de crime e extorsão.

13 de agosto

Prints divulgados pela psicóloga Marisa Lobo, que mostram a conversa que a psicóloga teve com Patrícia, desmentem a versão da jovem de que ela teria conversado com o pastor Everaldo. Marisa diz ter sido procurada por Patrícia no dia 18 de junho, três dias após o suposto abuso cometido por Feliciano.

A jovem precisava do contato de um determinado líder evangélico pois estaria passando por “coisas horríveis” e difamação nos bastidores do PSC. No início conversa, diz que hesitava em denunciar o deputado porque não queria manchar a reputação da bancada evangélica e de seus aliados. Ao fim, no entanto, ameaçava tornar o caso conhecido a partidos rivais, como o PT, o PCdoB e o PSOL.

16 de agosto

Feliciano posta em sua página no Facebook um vídeo com o objetivo de desmontar os argumentos de Patrícia. No vídeo, Feliciano se compara com José do Egito, personagem bíblico condenado por uma calúnia.

A defesa de Feliciano argumenta que a jovem nunca esteve no apartamento do deputado. Imagens divulgadas pelo pastor mostram ainda que ele não estava no apartamento no horário citado por Patrícia – entre 9h e 10h –, mas em uma reunião com o ministro do Trabalho, Ronaldo Nogueira.

19 de agosto

A Polícia Civil de São Paulo indicia Patrícia por denunciação caluniosa e extorsão no caso em que ela acusa Bauer por sequestro e cárcere privado.

O caso, no entanto, é independente da acusação que a jovem faz contra Feliciano por estupro qualificado e agressão, que corre em Brasília já que o deputado tem foro privilegiado. O delegado Hellmeister, diz que, ao final do inquérito, deve pedir a prisão preventiva da jovem.

“Ela inventou a história de sequestro aqui em São Paulo. Agora, se houve estupro ou não, isso está em Brasília”, disse o delegado, que afirmou ainda que ela foi diagnosticada com mitomania – compulsão em mentir e inventar histórias tidas por verdadeiras – no ano passado.

 

Com informações de G1, Correio Braziliense, Estadão e Gospel+.

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