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Jane Waldfogel*, The Conversation

A ideia de que a maneira com que os pais exercem a sua autoridade em casa tem relação direta com o desenvolvimento dos filhos no período da primeira infância já é amplamente aceita. Também já sabemos muito sobre o impacto da parentalidade nas desigualdades de desenvolvimento das crianças. Pais com mais recursos podem investir melhor em atividades e bens para seus filhos desde o início como, por exemplo, pais com escolaridade maior expõem seus filhos a um vocabulário muito mais amplo, como comprova um estudo.

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Um pai, no entanto, não é apenas o primeiro professor da criança, mas também o primeiro cuidador. Mães e pais influenciam o desenvolvimento de seus filhos, não apenas pelos recursos que investem e pela estimulação linguística e cognitiva que oferecem, mas também pelo vínculo ou apego que estabelecem com seus filhos.

A ideia central do apego é que o bom desenvolvimento social e emocional da criança depende de ter tido um cuidado sensível e responsivo na primeira infância. Um vínculo seguro dá à criança uma base segura para explorar, aprender, relacionar-se com os outros e se desenvolver. Mas nem todas as crianças desenvolvem um vínculo assim.

Tipos de apego

Quando um pai costuma responder a uma criança de uma maneira sensível e responsiva – pegando no colo a criança quando ela chora, segurando-a e tranquilizando-a – a criança se sente segura de que alguém próximo atenderá às suas necessidades. A criança, quando angustiada, sabe o que fazer e como os pais responderão: ela pode expressar, sem medo, emoções negativas e buscar a proximidade do cuidador – e pode esperar se sentir melhor. Isso é o que é chamado de vínculo ou apego seguro. Cerca de 60% das crianças estão nessa situação.

No entanto, 40% das crianças não desenvolvem esse tipo de apego seguro, com base em uma revisão das melhores evidências disponíveis, principalmente nos Estados Unidos. Alguns pais respondem ao sofrimento de seus filhos de maneiras insensíveis ou “rejeitadoras”, como ignorá-los ou se irritar com eles.

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Vivenciando isso regularmente, como acontece com cerca de 25% das crianças, elas acabam aprendendo a minimizar as expressões de suas emoções e necessidades negativas, e evitar os pais quando estão aflitos, o que se configura como apego evitativo.

Em outros casos, os pais são inconsistentes e imprevisíveis em sua resposta ao sofrimento dos filhos. Experimentando isso, como acontece com cerca de 15% das crianças, elas podem desenvolver o que é chamado de apego desorganizado.

As proporções de crianças com apego inseguro variam de acordo com a amostra e as medidas utilizadas. Em populações de alto risco, onde as famílias enfrentam múltiplos problemas, até dois terços das crianças podem estar nessa situação. As crianças que foram abusadas manifestam quase sempre apego inseguro. A prevalência desse tipo de apego também é maior entre famílias de baixa renda e de pais adolescentes do que na população geral.

Melhores chances na vida

O apego seguro nos primeiros três anos de vida pode servir como uma ‘base segura’ para o desenvolvimento tardio e as oportunidades de vida das crianças e, portanto, para a mobilidade social. Ao mesmo tempo, o apego inseguro coloca as crianças em risco nas principais áreas de desenvolvimento, incluindo o cognitivo, o de linguagem e o escolar, bem como desenvolvimento social e emocional. A promoção do apego seguro precisa ser um foco de políticas e serviços para famílias com crianças menores de três anos de idade.

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Certas políticas implementadas no Reino Unido já abordaram alguns dos fatores que ameaçam o exercício da parentalidade na primeira infância e o apego seguro. Iniciativas para destinar benefícios mais generosos e outros tipos de apoio a famílias com crianças pequenas e para estender a licença-maternidade e paternidade remuneradas, reduziram as pressões sobre famílias com recém-nascidos e crianças pequenas. Mas ainda mais pode ser feito.

Em particular, há um grupo de famílias cujos filhos correm o risco de apego inseguro, mas ainda não manifestam o desenvolvimento desse problema. Elas poderiam se beneficiar de serviços como ‘aulas’ de parentalidade. Além disso, as intervenções precoces com famílias de alto risco com crianças menores de três anos podem promover o apego seguro e o desenvolvimento, especialmente quando os profissionais qualificados treinam os pais e modelam cuidados sensíveis e responsivos. Expandir esses programas seria um investimento preventivo sólido.

*Professora de Serviço Social da Universidade de Columbia, nos Estados Unidos.

Tradução de Janaína Imthurm.

©2019 The Conversation. Publicado com permissão. Original em inglês.

 

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