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Foi publicado hoje o aguardado documento do papa Francisco sobre a família, que apresenta as conclusões do pontífice após as intensas discussões ocorridas no Vaticano em 2014 e 2015, no Sínodo sobre a Família. Temas considerados polêmicos, como a questão das uniões homossexuais e a comunhão para divorciados recasados constam no texto, mas de forma secundária no extenso documento de 260 páginas, nove capítulos e 325 parágrafos. Como cardeais e analistas haviam previsto, o pontífice não tornou livre o acesso à comunhão eucarística por parte de divorciados em segunda união, mas insistiu no acolhimento pastoral dos católicos que se encontram nesta situação e pediu aos sacerdotes que tenham discernimento para analisar caso a caso.

Intitulada  de Amoris Laetitia, “A alegria do amor”, a exortação apostólica parece não se preocupar em ser uma resposta a questões espinhosas, mas sim uma espécie de tratado sobre o casamento e a família na Igreja e no mundo de hoje.

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Divorciados em segunda união

Tendo em vista que mudanças doutrinais não são possíveis na Igreja Católica, o pontífice opta por manter o tom pastoral em seu texto.  “Nem todas as discussões doutrinárias devem ser resolvidas com intervenções magisteriais”, diz Francisco. Alguns analistas, contudo, afirmam que a exortação é mais flexível no que diz respeito à situação dos católicos que contraem um segundo casamento civil  do que documentos anteriores da Igreja.

“Apesar de não citar explicitamente a admissão à eucaristia no texto, em uma nota se faz referência aos sacramentos. Francisco explica que não é possível fixar regras canônicas gerais, válidas para todos, então o caminho é o do discernimento caso por caso”, explicou o vaticanista Andrea Tornielli no site Vatican Insider.

“Não é possível dizer que todos os que se encontram em alguma situação chamada ‘irregular’ vivem em uma situação de pecado mortal”, afirma o pontífice, que também reforça o fato de que divorciados em segunda união não estão excomungados.

Para a vaticanista Mirticeli Medeiros, Francisco não aderiu integralmente a nenhuma das duas alas da Igreja que defendiam posturas conflitantes durante o Sínodo, simbolizadas principalmente pelos cardeais alemães Kasper (defensor da liberação completa da comunhão aos recasados) e Muller (contrário às mudanças). “Não houve mudanças do ponto de vista canônico, como o papa bem sublinhou. Segundo ele, uma norma canônica não poderia ser promulgada, uma vez que cada caso é um caso e não se pode tratá-los da mesma forma”, disse a jornalista, que acompanhou a conferência em Roma. Mirticeli destaca que o texto é bem diferente do que foi proposto pelo cardeal Kasper, que propunha um possível “caminho penitencial” que, na prática, daria acesso indiscriminado a todos os divorciados em segunda união à comunhão eucarística. “O papa não foi nem pró-Kasper, nem pró-Muller. Ele indicou um caminho a partir daquilo que ele considera uma pastoral viva e concreta com os casais em segunda união”.

Homossexuais

No capítulo em que aborda as relações homossexuais, o papa reitera que toda pessoa, independente de sua tendência sexual, deve ser “respeitada em sua dignidade”, procurando evitar “qualquer discriminação injusta”.

No entanto, considera “inaceitável” equiparar as uniões entre pessoas do mesmo sexo com o matrimônio entre um homem e uma mulher. O texto destaca que “não existe fundamento para assimilar ou estabelecer analogias, nem sequer remotas”, entre ambas realidades.

Síntese
Segundo o cardeal austríaco Christoph Schönborn, que participou da conferência de imprensa que apresentou o documento nesta manhã, o texto representa um “verdadeiro desenvolvimento orgânico” da doutrina da Igreja, apresentando “verdadeiras novidades, mas não ruptura” com o ensinamento dos predecessores de Francisco.
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