O que é St. Patrick’s Day e como essa festa tornou-se o que é hoje
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O dia 17 de março tem ganhado cada vez mais destaque como o Dia de São Patrício, ou St. Patrick’s Day, uma comemoração da cultura irlandesa regada a muita cerveja e outras bebidas. A data faz referência à comemoração litúrgica do santo padroeiro da Irlanda, o bispo São Patrício, morto no ano 461.

Nascido na atual Grã-Bretanha, Maewyn Succat – ou, aportuguesado, Magno Sucato – era filho de um diácono, mas não era muito afeito à religião. Capturado por piratas aos 16 anos, foi levado para a Irlanda, onde trabalhou como pastor de ovelhas por seis anos. A história do santo conta que ele conseguiu fugir e foi ordenado em Roma, voltando depois para a Irlanda, com o nome de Patrício, para continuar o trabalho do bispo São Paládio, que levou o cristianismo ao país.

Sua comemoração litúrgica foi fixada no calendário da Igreja Católica só no século XVII, mas a partir daí a festividade ganharia cada vez mais corpo como celebração não apenas do santo, mas da identidade irlandesa.

Leprechaun, o personagem que enfeita festas de St. Patrick's Day. Leprechaun, o personagem que enfeita festas de St. Patrick’s Day.

Feriado nacional

A data é feriado nacional na Irlanda desde 1903. A partir deste ano, de forma intermitente, localidades irlandesas começaram a sediar desfiles e comemorações que, tendo por pretexto o dia do padroeiro do país, celebravam a nacionalidade irlandesa. Em 1931, aconteceu o primeiro desfile oficial, organizado pelo governo.

Na época da criação do feriado, a Irlanda inteira ainda era parte do Reino Unido, condição que mantinha desde 1801 e que durou até 1922, com a independência da maior parte da ilha. Apenas um território equivalente a cerca de um sexto da ilha permaneceu como parte do Reino Unido. Assim, hoje a Ilha da Irlanda é formada por dois territórios: a República da Irlanda, um país independente, e a Irlanda do Norte, uma das quatro nações que integram o Reino Unido, junto com a Escócia, a Inglaterra e o País de Gales.

A ilha toda, porém, tem uma identidade cultural comum e celebra o padroeiro São Patrício, comemorado tanto na Igreja Católica, que predomina na República da Irlanda, quanto na Igreja Anglicana, mais comum na Irlanda do Norte. Essa comemoração comum, porém, foi largamente marginalizada no Norte durante os anos de conflito com a República da Irlanda (1968-1998), mas foi retomada com o fim da contenda.

A decoração da festa sempre conta com a representação de trevos, um símbolo do país – conta-se que foi com um deles que Patrício explicou a Santíssima Trindade aos nativos –, e com a cor verde, associada ao país por sua vasta vegetação, que deu à ilha o apelido de Ilha Esmeralda. A cor é usada em bandeiras do país desde o século XVII e associada a grupos nacionalistas do fim do século XVIII.

Outro elemento presente nas festividades é o leprechaun, uma figura do folclore irlandês que esconde potes de ouro no final do arco-íris. Ele geralmente é retratado como um homenzinho barbado em miniatura, usando chapéu e casaco, mas sua aparência atual é bastante influenciada pelas caricaturas que retratavam os irlandeses de maneira depreciativa no século XIX.

Secularização

Precisamente naquele período, na metade dos anos 1990, o governo da República da Irlanda havia resolvido incrementar a comemoração e torná-la uma das maiores festas nacionais do mundo, reavivando o sentimento nacional, movimentando o comércio e projetando a imagem da Irlanda internacionalmente.

Assim, em 1996, foi organizado o primeiro St. Patrick’s Festival, que no ano seguinte se tornou um evento de três dias, em 2000 de quatro dias e em 2006 chegou a cinco dias de festividades. Foi com essa empreitada do governo que a festa se secularizou radicalmente, pois o objetivo era projetar uma noção inclusiva de ser irlandês, que não se baseasse na identidade religiosa ou étnica.

O festival passou a ser largamente comemorado também fora da Irlanda, sobretudo em países com muitos descendentes de irlandeses, e é considerado hoje a festa nacional mais celebrada fora de seu próprio país em todo o mundo. Nos Estados Unidos – que tem dez vezes mais descendentes de irlandeses que a própria Irlanda – a comemoração remonta ao século XVIII.

A festa, porém, se desvencilhou do orgulho patriótico e foi importada por países onde a imigração irlandesa é pouco significativa, como o Brasil. Mesmo na Argentina, onde está a quinta maior comunidade irlandesa fora da Irlanda, a organização da festa não conta com a participação dos descendentes.

Nesses lugares, longe de celebrar a cultura irlandesa – e mais longe ainda de ser a comemoração do santo que evangelizou o país –, a festa está associada quase que unicamente ao consumo de álcool, emoldurado pelo uso das cores nacionais da Irlanda, o verde e o laranja. Um fato curioso é que, na República da Irlanda, a venda de álcool foi proibida durante a Festa de São Patrício de 1927 a 1961.

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