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Com a justificativa de não predeterminar socialmente a identidade de seu filho, um casal de empresários brasileiros o registrou com um nome no mínimo inusitado: ele se chama simplesmente “B”. Roberto, de 38 anos, e Luísa Martini, de 35, decidiram abreviar o nome da criança para que ela tivesse o mínimo de influência e carga social possível. Isso inclui a determinação de sua identidade de gênero: o casal opta por não comprar roupas ou brinquedos que sejam ligados especificamente a um sexo, para que B – que já completou um ano de idade – possa construir sua própria identidade.

“Queríamos que ele não carregasse um caminho pré-determinado”, explica Roberto em depoimento à Folha de S. Paulo. Eles não queriam um nome que direcionasse aquilo que a criança devesse ser. E não só no gênero, mas também no significado. “No Brasil, quase 90% dos nomes são bíblicos e a gente não tinha conexão com isso”, exemplifica Luísa. “É um nome que ele pode seguir o caminho que quiser seguir, pode mudar, pode complementar”, completa Roberto.

Luísa também diz acreditar que um nome carrega uma carga energética e, por isso, eles queriam que o nome de seu filho fosse um espaço em branco, para que a criança pudesse explorar a sua personalidade. E, também, é algo fácil para qualquer cultura assimilar. “Esse nome traz uma liberdade para ele conseguir andar por diversas culturas, lugares e línguas”, conta. Os pais são sócios de um grupo de agências de publicidade.

Gênero

O nome de uma letra só também facilita que a criança tenha liberdade para escolher o seu gênero, segundo Roberto. Ele exemplifica com o que acontece em Nova York, onde são aceitos mais de 30 gêneros. “Não queríamos limitar. Esse nome foi a coisa mais simples e adaptável para o caminho que ele quiser seguir”, diz.

A família cujo pai chama-se Xérox, o filho Carimbo e o nome das irmãs segue a mesma linha

As roupas e brinquedos de B seguem a mesma linha. Segundo os pais, eles não pensam se a roupa a ser comprada vai ser de menina ou menino: entram vestidos, calças mais largas ou camisetas maiores. “A gente tenta trazer cores mais primárias. É difícil achar roupa de bebê mais básico, mas temos conseguido bem”, dizem. Já os presentes que B ganha costumam ser associados com o sexo masculino, porque é “o gênero de nascença”. “Não recrimino quem dá presente ligado a estereótipos masculinos”, diz Luísa.

“Eu só falo ‘não faz isso’ quando alguém fala algo sobre o comportamento dele ligado a padrões antigos masculinos. Se alguém fala ‘não chora, porque menino não chora’, eu digo ‘menino chora sim’”, enfatiza Luísa. Segundo ela, ainda, “esses padrões culturais de comportamento foram determinados muito tempo atrás” e a sociedade carrega sem questionar. “Nossa intenção não é criar um filho sem gênero, é criar um filho sem estereótipo de gênero. Eu tento me afastar do que é um código de masculino e feminino padrão e colocar coisas mais neutras”, esclarece a mãe.

A escolha do nome foi feita quando Luísa estava com seis meses de gravidez. No início, a família achou estranho e o atendente do cartório disse que, em 30 anos, aquela era a primeira vez que ele via alguém com um nome de letra única, segundo contou Luísa à Folha. “A pessoa que estava registrando teve que perguntar para um superior se podia registrar aquele nome”, disse Roberto. Os pais também criaram um sobrenome novo, que preferem não divulgar, mas a criança ainda tem o sobrenome de um dos pais, porque o cartório insistiu.

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