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Os ministros do STF cometeram um abuso obsceno na recente decisão sobre aborto. As redes sociais se encheram de lamentos e fúria, instituições emitem notas, atos de repúdio são organizados. Tudo isso é válido, legítimo e, de certa forma, é o limite daquilo que a maioria de nós pode fazer. Mas, na prática, só o Congresso Nacional é capaz de reverter essa situação ou blindar a legislação brasileira, de uma vez por todas, contra novas investidas criativas dos militantes de toga.

O lado bom daquela trágica madrugada de terça-feira é que os parlamentares pró-vida tomaram um choque de realidade, foram humilhados pelo STF e se deram conta de que têm de se esforçar mais para aprovar os projetos mais importantes em cada uma das casas, ou seja, os que garantem o direito à vida, desde a concepção.

“Temos de ser gratos por termos um bom número representantes que compartilham de nossas visões, mas convicção não gera competência”

Um evidente sinal desse despertar foi a impressionante rapidez com que o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), anunciou a criação de uma comissão especial que vai enfatizar que aborto continua sendo crime. Foi impressionante por que Rodrigo Maia nunca se destacou por ser um grande defensor dos direitos do nascituro, e, embora seu partido seja visto como conservador por muitos, o próprio Maia sempre preferiu manter-se discreto nos debates morais mais polêmicos.

A intenção de se reeleger como presidente da Câmara pesou e isso também revela a força que a bancada pró-vida têm na Casa. Só que também gera outra pergunta. Com essa força toda, por que é que não aprovaram até agora os projetos aos quais muitos deles devem a própria eleição?

E não me venham com a desculpa protocolar de que é preciso passar por várias comissões, fazer audiências públicas, consultar instituições, etc. Qualquer um interessado em política sabe que é assim mesmo que as coisas funcionam, mas podem funcionar assim e mais rápido. Para isso é preciso forte vontade política, articuladores hábeis e líderes influentes. Qual desses três elementos está faltando aos parlamentares que “lutam” contra o aborto?

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A impressão que muitos dos deputados e senadores deixam em quem os acompanha é que o vigor pela causa dura pouco, esfriando logo após um novo e redentor projeto de lei ser anunciado aos eleitores. Depois disso, a tramitação é deixada ao seu destino, rastejando lentamente, até seu final, sabe-se lá em que legislatura.

Temos de ser gratos por termos um bom número representantes que compartilham de nossas visões, mas convicção não gera competência. Temos a legislatura mais pró-vida das últimas décadas e não tivemos nenhuma conquista realmente transformadora desde que eles assumiram seus cargos.

Nós, eleitores que vemos a defesa da vida como prioridade, temos de parar de elogiar àqueles em quem votamos, só por causa do que dizem TV ou nas redes sociais, e focar mais na cobrança de resultados. Isso eles ainda não mostraram.

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