Crédito: Pixabay
Crédito: Pixabay| Foto:

A sala de aula era grande, como era grande também o quadro, no qual escreviam um sem número de teorias, histórias, metáforas etc. As carteiras eram mais simples, mas isso não importava muito. O que mantinha nossa atenção era o conhecimento de professores preparados. E existiam muitos deles. Como também existiam muitos (talvez a maior parte) cujo conhecimento era enviesado, carregado de preconceitos (com o exato sentido de preconceito: qualquer opinião desfavorável formado sem conhecimento balizado…). E assim aprendíamos o hoje sem ter ideia do ontem. No final restava uma glutonaria da qual se orgulhavam, inclusive.

O professor começa a falar sobre uma teoria estruturalista, abre aspas para contar sobre um entrevero entre sua filha e uma amiguinha, em uma festinha de aniversário. Cinco minutos depois, o professor, que já viajou por uns cinco tópicos, entre teorias e assuntos familiares, começa a falar sobre o cristianismo. Mas o que isso tem haver com o estruturalismo? alguns alunos se questionam. Mal termino de pensar tal frase e já escuto: “a Igreja era contra a ciência, perseguia cientistas e os jogava na fogueira”. Neste momento, num impulso, levantei a mão: “professor, acho que você está exagerando em seu julgamento. A Igreja não perseguia cientistas, ao contrário, os cientistas da época eram, em sua maioria, cristãos”.

Mas como ousas desacatar um professor em plena sala de aula? Foi o que alguns colegas, por certo, pensaram. E a professora, ou era professor? Foram tantas as vezes que coisas do tipo ocorriam, que me confundo. Acho que era um professor, não de linguística, mas de literatura. Gente fina, culto, por um lado, desonesto, do outro. A esta altura já avermelhava, não sei se de vergonha ou de raiva, mas brigava consigo para manter a calma. O que não conseguia manter era o argumento: “Sim, os cristãos jogavam os cientistas nas fogueiras das inquisições, não queriam que o progresso existisse, pois só assim poderiam continuar com o poder nas mãos…”

Após alguns comentários de colegas babões, comentários mais vazios do que minha conta bancária, levantei novamente a mão para perguntar: “então se afirmas isso, professor, cite três nomes de cientistas mortos na fogueira“. O silêncio só foi interrompido pelo gaguejar: “tem, tem o Galileu” disse ele. “Galileu não foi morto pela inquisição, morreu doente. Pouco tempo antes de sua morte recebeu os sacramentos…”. Qual foi o comentário dum colega: “recebeu os sacramentos por, certamente, obrigação”.

E nada de me contarem os nomes dos cujos cientistas assassinados pelas malvadas beatas, que certamente usaram seus próprios rosários para enforcá-los antes de queimá-los, que queimá-los vivos seria muito sofrimento, seria um pecado.

Mas isso foi apenas um caso. Há outros, certamente piores que este, acreditem, tudo é possível em uma sala de aula, quando se tem um professor que esqueceu o princípio básico de se limitar ao assunto de sua matéria para não falar besteiras sobre outras áreas.

A imoralidade aumenta quando usam tais argumentos (sem base na realidade) para atacar a própria realidade. As bases do cristianismo e os valores da família são impugnados em poucas palavras. Não raro encontramos, em um extensa crítica literária, o resumo da Idade Média em apenas uma frase: Idade das trevas. Mil anos de história (período com menos guerras do que o curto período do iluminismo) é solenemente ignorado. Se no período de maior expansão do cristianismo fora de trevas, como dizem, então facilmente destroem os valores da nossa história, pois que não se pode conceber valores de uma cultura que nos trouxe as trevas…

Mas a verdade um dia chega e de fato está chegando. Não se pode mais falar tanta besteira sem ter que justificá-las. Os alunos estão mais atentos a isso. A geração nascida após o ano 2000 é a mais conservadora desde a segunda grande guerra. E como bem disse o californiano Ben Shapiro, o conservadorismo é a nova contracultura .

Os erros (e ás vezes fica difícil destrinchar o contexto para afirmar um “erro” ou “acerto”) ocorreram, mas precisam ser encarados em seu panorama histórico. A contextualização é princípio sine qua non para qualquer matéria.

Ainda hoje aguardo os nomes dos infelizes cientistas.

Curta Ágora no Facebook

Siga o autor

Curta Sempre Família

Deixe sua opinião